1. Uma das jubiladas conquistas da Democracia à Moçambicana é o exercício constitucionalizado e institucionalizado da liberdade de imprensa e a decorrente livre iniciativa privada, tendo como exemplo paradigmático a sanha cogumélica de surgimento de jornais, quer na vertente electrónica (os faxes ou de circulação por email) como nos semanários tablóides (no formato, se bem que alguns se confundam de facto com os famosos, quero dizer, famigerados junkie tabloid britânicos... sensacionalistas).
Hoje por hoje, em semanários (meu campo preferido dos media) temos uma fauna com “animais” como Savana (com a melhor equipa de opinião do País), Domingo (cultor das melhores grandes reportagens, palmilhando e calcorreando o País real), Zambeze (o mais irreverente, amiúde dissidente), Magazine Independente (nome peregrino este para um jornal semanário!, mas que vale pelo melhor editorialista do País), Escorpião, Público, Wamphula (em Nampula) e o saudável @ Verdade (mais adiante vou justificar por quê deste adjectivo).
2. Este post teve três momentos fundadores. O primeiro foi o desafio que o meu professor de Relações Públicas, Dilip Navalshankar, fez a mim e meus colegas do bacharelato em Ciências da Comunicação n'A Politécnica: que cada um escrevesse seu Memorial Crítico, o qual não só descrevesse o itinerário por cada um trilhado no campo da comunicação social mas que constituisse uma bússola de orientação de futuros temas para trabalhos de fim de curso. Lá fui ao meu pocket PC buscar algumas notas que venho tomando ao longo dos anos, tendo elencado alguns temas, um dos quais a epígrafe - como proposta de pesquisa.
O segundo momento foi quando, ao recomendar por SMS a alguns amigos que lessem o Editorial desta semana do Savana sobre a Guiné-Bissau (disse-lhes, enfático e peremptório como gosto de ser, “é uma lição de história!”), o Ericino de Salema assentiu, tendo contudo aproveitado a deixa para desabafar que a qualidade do jornalismo estava a baixar cada vez mais, reclamando que os assuntos são os mesmos, as abordagens as mesmas, idem as “análises” (direitos de autor: as aspas são dele).
O terceiro “momento a-haa” para esta postagem foi quando conversava com um amigo meu que tem o dobro da minha idade, cuja casa de pasto recebe todas as semanas uns tantos dos 50 mil exemplares que o único jornal gratuíto do País e com melhor qualidade (cor e papel) de impressão distribui semanalmente.
Discorriamos, pois, sobre o mérito do @ Verdade versus demérito do grosso dos semanários: pela pretensão de serem jornais de referência, tratando de hard news, todos eles praticamente versam sobre as mesmas matérias, consultam as mesmas fontes, têm as mesmas abordagens (de formato, extensão das estórias, no conteúdo e pelos ângulos aplicados) e andam todos seguidistas e cegos atrás de fait divers da corrupção e burocratismo no sector público, das polémicas dos casos quentes e males da nossa Justiça e da política politiqueira da FRELIMO e seus sibindizes acólitos da oposição construtiva, atrelados às dhlakamices e mazanguices...; em contrapartida, o @ Verdade propõe-se trazer um outro lado de Moçambique, uma visão positiv(ist)a das coisas boas e mesmo más da nossa terra, de contar apaixonantes human interest stories que retratem os desafios de desenvolvimento, de resgatar estórias must read do nosso quotidiano, estimulando o debate saudável de assuntos candentes ao jeito de soft news, de leituras de fim-de-semana. Uma forma, diriam os americanos, de dissimular ser silly tratando de serious issues. Prova disso, a ultima edição do jornal do Erik Charas traz uma estória – “biografia (positiva) de mel” - de uma jovem heroína na luta contra o SIDA, contra o estigma e a descriminação - leiam, felizmente este jornal arrancou logo com edição online em simultâneo com a impressa.
3. São estas untold estórias da vida real, estas abordagens frescas e resgatadoras do Jornalismo Narrativo, que junto com o Jornalismo Investigativo (que persegue e constrói dossiers e folhetins, que permite fazer hiperligações e desvenda conexões, que aprofunda e problematiza, e que proporciona exclusivos/scoops) marcam a diferença e nos fazem acreditar no valor da pluralidade e da diversidade e na nobre função do jornalismo como construção social da realidade, não deformação daltónica, miopista e conspiracionista da verdade, quando não falsificação do real.
Tudo isto, embora para muitos pareça implícito, senão explícito qual é a minha opinião (que carece de um trabalho de pesquisa e análise para que tenha selo de certa verdade), leva-me a questão inicial: há mais jornais, mas há pluralismo em Moçambique?
Ou, por outra: o que significa pluralismo no âmbito da liberdade de imprensa? É termos muitas vozes fazendo-se ouvir e múltiplos personagens dando a cara pensando a mesma coisa e dando a mesma opiniao sobre assuntos dominantes, todos reportando as mesmas coisas e da mesma forma como se de uma unanimidade nacional se tratasse? Pluralismo nos media é uma questão numérica (the more the merrier), ou tem que ver com diversidade de abordagens, de temas, tantas quantas sejam as vozes e caras com espaço aberto para debruçar-se sobre?
Ou por uma outra: dão todos esses jornais semanários da praça mediática nacional maputocêntrica, voice to the voiceless?
PS: aos camaradas de ofício, amantes dos media e do jornalismo vai uma sugestão de leitura e de cinema: o livro Toda a Verdade, de Morris West, sobre o jornalismo de investigação e os condicionalismos éticos e a pretensão de se querer dizer toda a verdade; e o filme Boa noite, e Boa Sorte, de George Clooney, sobre o jornalismo de intervenção na América do McCarthysmo.
Hoje por hoje, em semanários (meu campo preferido dos media) temos uma fauna com “animais” como Savana (com a melhor equipa de opinião do País), Domingo (cultor das melhores grandes reportagens, palmilhando e calcorreando o País real), Zambeze (o mais irreverente, amiúde dissidente), Magazine Independente (nome peregrino este para um jornal semanário!, mas que vale pelo melhor editorialista do País), Escorpião, Público, Wamphula (em Nampula) e o saudável @ Verdade (mais adiante vou justificar por quê deste adjectivo).
2. Este post teve três momentos fundadores. O primeiro foi o desafio que o meu professor de Relações Públicas, Dilip Navalshankar, fez a mim e meus colegas do bacharelato em Ciências da Comunicação n'A Politécnica: que cada um escrevesse seu Memorial Crítico, o qual não só descrevesse o itinerário por cada um trilhado no campo da comunicação social mas que constituisse uma bússola de orientação de futuros temas para trabalhos de fim de curso. Lá fui ao meu pocket PC buscar algumas notas que venho tomando ao longo dos anos, tendo elencado alguns temas, um dos quais a epígrafe - como proposta de pesquisa.
O segundo momento foi quando, ao recomendar por SMS a alguns amigos que lessem o Editorial desta semana do Savana sobre a Guiné-Bissau (disse-lhes, enfático e peremptório como gosto de ser, “é uma lição de história!”), o Ericino de Salema assentiu, tendo contudo aproveitado a deixa para desabafar que a qualidade do jornalismo estava a baixar cada vez mais, reclamando que os assuntos são os mesmos, as abordagens as mesmas, idem as “análises” (direitos de autor: as aspas são dele).
O terceiro “momento a-haa” para esta postagem foi quando conversava com um amigo meu que tem o dobro da minha idade, cuja casa de pasto recebe todas as semanas uns tantos dos 50 mil exemplares que o único jornal gratuíto do País e com melhor qualidade (cor e papel) de impressão distribui semanalmente.
Discorriamos, pois, sobre o mérito do @ Verdade versus demérito do grosso dos semanários: pela pretensão de serem jornais de referência, tratando de hard news, todos eles praticamente versam sobre as mesmas matérias, consultam as mesmas fontes, têm as mesmas abordagens (de formato, extensão das estórias, no conteúdo e pelos ângulos aplicados) e andam todos seguidistas e cegos atrás de fait divers da corrupção e burocratismo no sector público, das polémicas dos casos quentes e males da nossa Justiça e da política politiqueira da FRELIMO e seus sibindizes acólitos da oposição construtiva, atrelados às dhlakamices e mazanguices...; em contrapartida, o @ Verdade propõe-se trazer um outro lado de Moçambique, uma visão positiv(ist)a das coisas boas e mesmo más da nossa terra, de contar apaixonantes human interest stories que retratem os desafios de desenvolvimento, de resgatar estórias must read do nosso quotidiano, estimulando o debate saudável de assuntos candentes ao jeito de soft news, de leituras de fim-de-semana. Uma forma, diriam os americanos, de dissimular ser silly tratando de serious issues. Prova disso, a ultima edição do jornal do Erik Charas traz uma estória – “biografia (positiva) de mel” - de uma jovem heroína na luta contra o SIDA, contra o estigma e a descriminação - leiam, felizmente este jornal arrancou logo com edição online em simultâneo com a impressa.
3. São estas untold estórias da vida real, estas abordagens frescas e resgatadoras do Jornalismo Narrativo, que junto com o Jornalismo Investigativo (que persegue e constrói dossiers e folhetins, que permite fazer hiperligações e desvenda conexões, que aprofunda e problematiza, e que proporciona exclusivos/scoops) marcam a diferença e nos fazem acreditar no valor da pluralidade e da diversidade e na nobre função do jornalismo como construção social da realidade, não deformação daltónica, miopista e conspiracionista da verdade, quando não falsificação do real.
Tudo isto, embora para muitos pareça implícito, senão explícito qual é a minha opinião (que carece de um trabalho de pesquisa e análise para que tenha selo de certa verdade), leva-me a questão inicial: há mais jornais, mas há pluralismo em Moçambique?
Ou, por outra: o que significa pluralismo no âmbito da liberdade de imprensa? É termos muitas vozes fazendo-se ouvir e múltiplos personagens dando a cara pensando a mesma coisa e dando a mesma opiniao sobre assuntos dominantes, todos reportando as mesmas coisas e da mesma forma como se de uma unanimidade nacional se tratasse? Pluralismo nos media é uma questão numérica (the more the merrier), ou tem que ver com diversidade de abordagens, de temas, tantas quantas sejam as vozes e caras com espaço aberto para debruçar-se sobre?
Ou por uma outra: dão todos esses jornais semanários da praça mediática nacional maputocêntrica, voice to the voiceless?
PS: aos camaradas de ofício, amantes dos media e do jornalismo vai uma sugestão de leitura e de cinema: o livro Toda a Verdade, de Morris West, sobre o jornalismo de investigação e os condicionalismos éticos e a pretensão de se querer dizer toda a verdade; e o filme Boa noite, e Boa Sorte, de George Clooney, sobre o jornalismo de intervenção na América do McCarthysmo.
4 comentários:
boas vindas milton.
fizeste muita falta. vou-te dizer uma coisa: há muitos preguiçosos. de um lado são editores com créditos que não devem saber orientar a malta e do outro há uma malta jovem que acha que fazer jornalismo é repetir o que se diz por ai. não há um cuidado de entenderem os assuntos e procurar oferecer uma outra perspectiva. quando das fugas no mint sugeri ao carmona que procurasse saber como é que funcionava a polícia; quem reposndia a quem? que departamento dentro da polícia faz a monitoria das ocorrências; quem investiga as razões, por exemplo, do disparo e morte deste e aquele alegado malfeitor; como é que são dadas as ordens? qual é a cadeia de comando, entre outras. o que te posso dizer é que ainda estou à espera. o diz-se diz-se traz boas "bombas" mas ninguém investiga. é que a coisa morre ali mesmo. agora, se a existência de mais jornais representa pluralismo ou não, esta é uma questão que pode ser respondida se entendermos o que queremos dizer com pluralismo. acho que ainda não há consenso.
abraços
Bayano, mais uma vez usaste o teu bistúrico método de "tocar na ferida" e foste logo para a nossa musa: SAVANA. De facto, o SAVANA - que o Patrício Langa chama sui geneircamente de in-de-pen-den-te - tem responsabilidades acrescidas não só porque foi o pioneiro mas continua a assumir-se líder da opinião pública e publicada. Efectivamente, o Diz-se, Diz-se dá indicações de estórias, desde a política e do business, e ficamos sempre com a impressão de que ali há uma "incubadora" de assuntos para o exercício do jornalismo investigativo...mas depois revela-se um "lame duck". E o Diz-se, Diz-se vai ficando cada vez mais inofensivo...fica apenas uma coluna de sarcasmo, de nos fazer rir das desgraças e das desventuras dos políticos e dos businessman. Há ali um manancial de estórias por explorar...mas o Carmona está "condicionado" por uma redacção curta e mal paga e pouco motivada, tem jovens com muito futuro e que já nos dias de hoje se podem afirmar melhor liderados (Emídio Beula, Armando Nenane e Raúl Senda). Parece-me que o problema vem mais de cima do Carmona, há um conformismo, comodismo, um manter do "status quo". Concebe-se que jornais recém-criados como o Escorpião e o Público tenham melhor papel, melhor qualidade de impressão e sejam a cores, enquanto o SAVANA por vezes nos burle com impressões "da outra era" da velhaca tipografia do Notícias? Por que o SAVANA não imprime como os outros jornais coloridos na gráfica do grupo Soico? ou na Lowvelder dos sul-africanos em Nelspruit?
Bem, sobre o conceito de pluralismo, creio que as minhas questões finais, mais do que a elaboração do texto todo dizem algo do que pretendo saber...
E, a teoria sobre o pluralismo nos media deve submeter-se ao teste do prático e do real, do facto. Vamos lá discutir!
pluralismo!!!!! quero crer que pluralismo na concepção de the more the merrier. mas esse more the merrier tem qualificações! se de um lado espera-se que haja mais meios de comunicação social, do outro espera-se que sejam o mais diversificado possível. o desiderato é de que há uma ampliação de acessibilidade. acrescento que isso não deve descurar o lado da qualidade. o que acho que emperra o desenvolvimento de uma média pluralística (no sentido de mais órgãos mais qualidade) é a politização embora que inconsciente do jornalista moçambicano. esquece o jornalista que a sua profissão é também ciência e que apesar de se envolver diariamente, deve-se manter neutro. é preciso que tenhamos réguas mentais para sempre marcarmos a nossa equidistância. teno dito que é possível termos um órgão de comunicação pluralístico na medida em que os jornalistas apenas preocupam-se com a busca de verdade jornalística partindo cada um da dua perspectiva, que não tem nada a ver com sofismas. isso é para os políticos.
Bayano,
continuas a desafiar-me sério!!! és um bom driblador/ilusionista e vertiginosos - tipo "Maengane", qual Messi! - ou és um fatal finalizador tipo Cristiano Ronaldo, pá!? Olha que eu estava a pensar/questionar o pluralismo na variedade e multiplicidade de órgãos de informação (OI), no caso em estudo de jornais. E tu introduziste uma boa variável: pluralismo num mesmo OI, num sentido de especializações, perspectivas diferentes, estilos diferentes...o que até faz-me recorrer a um dos teus assuntos favoritos: livros de estilo em redacções. Não estou a desviar-me, só estou a tentar entrar no teu campo de análise: os livros de estilo não servem apenas para regrar, mas permitem o exercício da diversidade num âmbito de ordem.
Era apenas um parêntesis, mas julgo que estamos entendidos. Mas, porque sou fraco em teorias, Bayanôo, não vamos discutir o sexo dos anjos...enquanto invadem o exército da inqualidade invade a nossa cidade dos media.
Por isso, retomo à questão inicial (será pedra filosofal?): no panorama actual da imprensa semanal maputocêntrica, há mais jornais em Moçambique, mas há pluralismo?
Aquele abraço!
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