quinta-feira, 9 de abril de 2009

O “caso Muananthata” e a promiscuidade no jornalismo moçambicano

“Moçambique enferma do síndroma de permissividade” (Ungulani Ba Ka Khossa)

“Toda a sociedade que não é esclarecida por filósofos é enganada por charlatães” (Condorcet)

1. Estava à procura desta oportunidade! Eu, Milton Cesário Banze Machel, me confesso, nestas coisas sou um oportunista, um verdadeiro “mahupeiro” da estirpe de “Totó” Schillaci nas peladinhas do “xipawana” e do “gulamussene”! Por isso, venham comigo neste “tour de force” ao meu estado de inquietude, quando o assunto é jornalismo moçambicano: essa minha eterna amada, qual “aquela cativa que me tem cativo” de Camões, esse meu mal-me-quer, bem-me quer...

Comemora-se sábado, 11 de Abril, mais um Dia do Jornalista Moçambicano, como entrada assim para mais um mês e meio dedicado à Liberdade (esse valor-supra sumo à existência do homem, como ser social e animal político). Por ocasião disso, o Conselho Superior da Comunicação Social (CSCS) e o Sindicato Nacional dos Jornalistas (SNJ) decidiram promover um debate subordinado ao tema “O Desenvolvimento da Comunicação Social em Moçambique: Aspectos Legais e Éticos”.
Diria o meu bom escriba amigo, eterno camarada de ofício (o destino dos poetas são as palavras...) e escrevedor de destinos, Nelson Saúte – a quem roubei esse vício/pretensão de ser enfático e peremptório –, “É salutar!”, esta iniciativa do CSCS e do SNJ.

Saudável - acrescentaria o meu professor bloguista da cadeira de Dúvida Metódica: Elísio Macamo - pelo facto de termos de ser uma sociedade de debate. Louvável, diria eu, neste País que cultiva os Feriados, as Tolerâncias de Ponto e as Efemérides como “momentos de reflexão” qual sociedade de filósofos (diz Karl Popper, o homem da Sociedade Aberta, que todos os homens são filósofos...uns mais do que os outros, acrescentariam os que se querem “exclusivisar” no Clube dos Filósofos, reservando-lhe o direito de admissão).

Oportunista como gosto de ser, aproveito este ensejo do debate promovido por aqueles organismos tutelares dos media e da profissão de jornalista para os provocar e a toda a sociedade moçambicana alcançável via blogosfera sobre dois pontos que balizam o tema do debate de sexta-feira, 11 de Abril de 2009: o Legal e o Ético.

2. O recém-despoletado “Caso Muananthata” serve de mote para as questões que a seguir levanto e que, a meu ver, são de certo modo reveladoras do Estado dos Media (pois, para mim, quem faz o Estado, as instituições e as organizações é o homem que neles desempenha papéis e funções, se eu fosse Nicolau de Copérnico ou Galilei Galileu enunciaria a Teoria Homocêntrica, que o Homem é o Centro do Universo, e que tudo gira à volta dele, mesmo que os teo-fundamentalistas de hoje me condenassem à fogueira!).

Para quem não sabe, o “Caso Muananthata” foi assim baptizado porque há umas semanas o Governador da Província de Tete, Ildefonso Muananthata, foi acusado pelo jornalista do “Notícias” Bernardo Carlos de o ter, alegadamente (ou supostamente?, como gostam os jornalistas de escrever), ameaçado de morte: a polémica é que o Governador estaria desgostoso com os escritos “rebeldes” (palavra minha) daquele jornalista do matutino dito oficioso, e que por via disso teria dito que ele corria risco de acabar como a legenda do Jornalismo (de Investigação) Moçambicano Carlos Cardoso, pois Bernardo Carlos poderia “perder esse cotovelo com que me acotovelas”.

Depois do “j’accuse” de Bernardo Carlos e supostamente o testemunho de quatro colegas de profissão que presenciaram a cena, e com a consequente mediatização do caso (não era para menos!, poderá tratar-se de um atentado à liberdade de expressão e uma ameaça à vida do Bernardo Carlos, se provada em sede própria) tudo virou do avesso.

Do “j’accuse” de Bernardo Carlos passou-se para uma autêntica sessão de “jaccuzi”: três dos colegas (por sinal dois em órgãos públicos, TVM e RM) desmentiram ter testemunhado em favor de Bernardo Carlos e de subscreverem os termos da acusação, enquanto um (do Diário de Moçambique) fincava pé que sim, é(ra) verdade o que acontecera e tal como se descreve que aconteceu.

O caso não ganharia contornos suspiciosos e não me levaria a colocá-lo no “cesto da promiscuidade” se a figura responsável pela sua clarificação ou resolução não desempenhasse os duplos papéis que a media lhe atribui: delegada provincial da secção moçambicana do MISA e adida de imprensa do Governo Provincial de Tete. Como disse!? Delegada do Media Institute for Southern Africa/Instituto de Comunicação Social para a África Austral e em simultâneo adida de imprensa do Governo de Tete!
Aí é! Qual a fronteira, na actuação que ela teve neste caso e no desempenho da sua função no MISA, entre o defender os interesses do jornalista e da liberdade de imprensa vs defender interesses de quem lhe paga o salário como assessora para a ligação com os media? Onde está o Legal da questão? Onde está o Ético da questão?

3. Porém, para demonstrar que não se trata de um caso isolado nos nossos media, chamo à vossa atenção estes casos que para mim entram no “catálogo da promiscuidade” e são auto-ameaças ao exercício da liberdade de imprensa, à independência, à imparcialidade, à isenção (espero que o adido de imprensa do Ministério do Trabalho e às vezes jornalista do semanário desportivo Desafio, Jafar Buana, não venha brandir que está aqui mais um caso que prova que a blogosfera moçambicana é espaço para se acusar pessoas e lesar honras e reputações).

- O até há pouco tempo representante das Empresas Jornalísticas (entenda-se sindicato dos patrões da media privada no CSCS), para além de ser jornalista em pleno direito no seu O Popular Fim-de-Semana, é(ra) assessor de imprensa da empresa que brilha “amareladamente” no “Big Five” do índice das 100 Maiores Empresas de Moçambique da firma de consultoria e auditoria KPMG. Pergunto pela segunda vez: Onde está o Legal da questão? Onde está o Ético da questão?
- Enquanto durou o mandato de David Simango como Ministro da Juventude e Desportos (MJD), até ele assumir a Presidência do Município de Maputo, o assessor de imprensa do Ministério da JD era um redactor (jornalista) desportivo do matutino “Notícias” – curiosamente, ele é meu ex-chefe de redacção no saudoso e extinto jornal “Campeão”. Coincidentemente, ele foi substituir outro jornalista do mesmo jornal que assessorava o bonacheirão Joel Libombo nos últimos anos do seu mandato de MJD. Repito a questão: Onde está o Legal? Onde está o Ético?
- Em Manica, um jornalista e colunista do mesmo “Notícias” (eish, anima ser jornalista no Notícias!), até última notícia de que eu tenha conhecimento, é(ra) em simultâneo delegado provincial do SNJ enquanto “comia” um pouco da “mola” do erário (público) como adido de imprensa do Governo da província. Acho que já é redundante eu retornar àquela questão, mas, se perguntar não ofende, nem é crime...
- Em Inhambane, um jornalista e também colunista do mesmo “Notícias” (xi, outra vez!!!, acho que começo a ser um atentado ao nosso grande diário!) desempenhou até há uns tempos a função de adido de imprensa do Governo da província. Ainda é preciso perguntar, de novo!?

Para terminar, um caso à parte: o irreverente e dissidente jornal Zambeze acusou em Editorial, há uns meses, o Director Editorial do semanário Domingo e agora representante das Empresas Jornalísticas no CSCS e novo Administrador-Delegado da Sociedade do Notícias de “receber algum” por assessorar o Conselho de Administração das Linhas Aéreas de Moçambique. O Zambeze não chegou a apresentar provas, fê-lo em sede de coluna de opinião, mas, ao que me parece, não foi desmentido publicamente nem processado judicialmente. O que levanta suspeições, o que não é nada bom para a reputação de uma figura respeitada no jornalismo moçambicano, cuja integridade até hoje não sofreu máculas nenhumas, por quem tenho particular apreço e aprendi a admirar desde os tempos que minha mãe oficiou no Notícias e eu reverenciava aquela casa (que até hoje considero, sem catolicismos nenhuns, “a catedral do Jornalismo Moçambicano”).

Depois deste meu arrolar de casos (infelizmente, acredito haver mais!), que considero inescreverem-se no âmbito de uma prática de promiscuidade nada abonatória e pouco salutar ao exercício da liberdade de imprensa, à profissão de fé na imparcialidade, na isenção e na independência, lanço aqui o desafio ao SNJ, ao MISA, ao CSCS e aos colegas para debaterem a questão da Legalidade e da Ética no Jornalismo não como quem “discute o sexo dos anjos”... pois o “Cavalo de Tróia” dessas práticas promíscuas está a invadir o nosso jornalismo.

Não vou cometer a ousadia de acusar o MISA, o CSCS e o SNJ de pactuarem com essa promiscuidade, pois não tenho provas de que façam vista grossa àquele funcionalismo dúplice de figuras a estes organismos ligadas. O Objectivo desta postagem é tão só discutir essa duplicidade e incompatibilidade de papéis que cada vez mais crescente número de jornalistas desempenha. Esta postagem quer-se apenas mais uma contribuição ao debate do Legal e do Ético, por um jovem jornalista (na reserva) para jornalistas, patrícios e camaradas de ofício.

P.S.1: Tenho saudades de Leite de Vasconcelos, por isso vou voltar a ler, pela enésima vez, o seu “Pela Boca Morre o Peixe”.

P.S.2: Para quem queira entender dos efeitos nefastos dos “agentes duplos”, recomendo a leitura da obra “Agente Zigzag”, de Ben McIntyre, que fala da improvável estório do “duplo agente” e provavelmente “triplo agente” Eddie Chapman, que qual espião que veio do glacial leva a vida no arame brincando com os serviços secretos britânico e alemão no tempo da Segunda Guerra Mundial.

8 comentários:

Júlio Mutisse disse...

Estimados bantu-cosmopolitas sediados em Mocambique!!!
Que comentários levantam sobre a notícia abaixo?
Abrs, Josué

Foi desta forma que meu dia começou. É claro que respondi ao desafio do meu amigo Bila. Mas leiam notícia do notícias antes.
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Jogos de interesse prejudicam jornalismo - defendem participantes num debate sobre a matéria, por ocasião do Dia do Jornalista Moçambicano
CONFLITOS de interesse de natureza política e económica estão a pôr em causa a ética e o exercício da profissão do jornalismo no país, segundo se pode aferir do debate ontem realizado na sede do Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ), subordinado ao tema “Desenvolvimento da Comunicação em Moçambique”, por ocasião da celebração, hoje, do Dia do Jornalista Moçambicano. O debate teve como orador principal o jornalista Augusto de Carvalho, assessor editorial do jornal “Domingo”.
Maputo, Sábado, 11 de Abril de 2009:: Notícias

No entender dos participantes, o jornalismo, nos tempos que correm, é usado para tirar vantagens políticas e económicas, desvirtuando-se deste modo o sentido e objectivo real da profissão. Em resultado, vários sectores olham para a profissão com desconfiança.
Augusto de Carvalho deixou claro que toda a problemática à volta do jornalismo está no conhecimento. Segundo ele, só pode informar quem conhece, sendo que o conhecimento tem regras. Por falta desse conhecimento, de acordo com Carvalho, “temos a tendência de falar de tudo, quando não dominamos”. Neste contexto, o jornalista deve preocupar-se em ter conhecimentos, procurando sempre superar-se, pois fazer jornalismo é um acto de cultura.
Noutro desenvolvimento, o orador mostrou-se preocupado com o jornalismo de investigação que é feito no país. Disse haver abuso do termo, pois muitos jornalistas limitam-se a publicar documentos que lhes chegam às mãos, sem nunca os submeter ao crivo.
Disse haver necessidade de associar o discurso jornalístico com a ética. “A importância do jornalismo é o fortalecimento da democracia. A lógica do jornalismo é a liberdade humana”.
Foi muito discutida a questão da formação dos profissionais de Comunicação Social, tendo-se colocado dúvidas sobre a qualidade da formação nos estabelecimentos de ensino ligados ao sector, nomeadamente a Escola de Jornalismo e a Escola de Comunicação e Arte (ECA) da UEM, sobretudo no que concerne à formação prática. A ideia generalizada passada foi a de que aquelas escolas limitam-se a oferecer conhecimentos teóricos, em detrimento dos práticos, levando a que muitos dos formandos tenham depois dificuldades no exercício da profissão.
O debate foi realizado em parceria com o Conselho Superior de Comunicação Social, que se fez representar por seis dos seus 11 membros.

Júlio Mutisse disse...

O meu comentário ao desafio do Bila ilustrado no comentário anterior:

Camarada, estranho que os jornalistas tenham precisado de uma conferência
para descobrirem que "CONFLITOS de interesse de natureza política e
económica estão a pôr em causa a ética e o exercício da profissão do
jornalismo no país" . Em muitas ocasiões, implícita ou explicitamente, na blogosfera e não só, tem se referido a existência desta questão que tolda,
se calhar, a possibilidade de aparecimento de um jornalismo que ultrapasse a preguiça do "jornalismo sentado" que nos caracteriza enquanto nação.

Estranho também que os jornalistas, enquanto PODER e, digamos, um PODER subversivo, mesmo constatando esta limitante, não tenha ainda usado desse tal PODER para denunciar as limitações e, ao mesmo tempo, livrar-se delas.

Simplesmente, me parece, vamos apontando o "errado" de um colega que é assessor de comunicação de um Ministro, com a qualidade de jornalista,esperando que a nossa vez chegue...

Milton Machel disse...

Caro Muthisse, belas observações, sem sombra de pecado da vaidade e do "(m)euismo umbilicalista", julgo que a minha postagem roça essas questões que levantas. E espero que tenha sido de alguma ajuda nesta "grande descoberta", qual "breakthrough" do Estado do Jornalismo Moçambicano, feita na sala João Albasini ali no "Kremlin".
Mas, no mais, tens toda a razão, alguns de nós estão/estamos a espera da nossa "chance" de ser assessor de Ministro (nisso, embora seja correspondente da agência espanhola EFE, o meu ex-colega no SAVANA, Rafael Bié foi de certo modo coerente ou teve de sê-lo, quando assumiu a função de adido de imprensa do Ministério da Justiça e largou o jornalismo activo intra-muros. É só uma observação, para mim de algo positivo, por favor não debatam o "caso Bié").

Sabes qual é o principal problema destas práticas Mutisse? é que vamos transportando para o jornalismo aquilo que o professor Elísio Macamo chama de "fenómeno da bicha" - se "la famba bicha" nisto de ficarmos "agentes duplos", já não há culpados, nem santos nem pecadores, de "modus operandi" de alguns, passa a ser "modus vivendi" de muitos...

Júlio Mutisse disse...

Isto é preocupante meu caro. Receio que o 4º poder não chegue a exercer cabalmente o poder que lhe é reconhecido.

O Mapengo disse (na altura):

Júlio
Não se ficou a espera de uma conferência para se descobrir o “não ético” do que Milton (como vai meu companheiro) chama de agente duplo. Mas o jeito que apareceu no dia dedicado aos jornalistas vestiu a capa de uma verdadeira descoberta da pólvora.
Esse é um tema sempre proposto para debates ou cursos sobre jornalismo e foi se levantando isto. Mas é um assunto que parece não interessar a muitos porque se está ou estamos a espera da nossa vez nessa bicha. Então, Júlio nesse papel de agente duplo o PODER que te referes ficará sempre adiado por esse sonho de assumir uma pastinha numa das instituições do governo. Meio a brincar, já no fim do seu texto no blog, Milton vai tocando nisto.
É isso Josué, acho que não é exactamente bloqueado, enquanto não surtir efeito pode se repetir até ficar sem voz.

Mapengo

Milton Machel disse...

Caro Muthisse,

em MOçambique há muito que o "so-called" QUARTO PODER virou efectivamente QUARTO DO PODER (do "Big Old Party" e do GOVERNO DO DIA).

Queres mais um exemplo para o meu catálogo de promiscuidade?

Um meu ex-colega no único semestre que frequentei na ex-UFICS antes de "fugir" da Academia-Mãe de Moçambique (UEM) e jornalista (eminentemente desportivo) do semanário Domingo acaba de juntar-se (como ASSESSOR DE IMPRENSA, em deixar o Domingo) ao elenco do recém-eleito Presidente do Município "Ka Matsolo" Arão Nhancale (até há pouco "dinossauro" Presidente da Federação Moçambicana de Ténis).

Há uns anos, um ex-chefe da redacção do Domingo, ao regressar à Sociedade do Notícias após se formar numa universidade, creio eu na África do Sul, teve dificuldades de se reinserir no Domingo mas durante algum tempo foi editor do suplemento de CULTURA do Notícias enquanto oficiava como assessor de imprensa no então Ministério dos Recursos Minerais e Energia.

Há uns anos, quando no SAVANA portagonizei (escrevi) a estória/manchete MINISTRO DA EDUCAÇÃO DÁ BOLSAS A FAMÍLIA um colega meu jornalista, curiosamente do Notícias, veio pretensamente a soldo do Ministério da Educação propor-me que eu entregasse a minha fonte (que eles desconfiavam fosse um "insider" no caso o Dr. Biché, quando na verdade eu obtivera o documento de uma fonte na ASDI/SIDA)em troca de boas ma$$as (eish, era uma tentação na altura, eu recebia abaixo de 8 mil meticais). Outro colega, um "galáctico" no jornalismo chegou a passar-me o recado de um amigo seu no "partidão" e então uma "rising star" no Governo da chamada Ala Chissanista segundo o qual as minhas matérias seriam vingança EM NOME DO PAI porque tinham cortado as pernas (politicamente e profissionalmente) ao meu pai (o CANDIDATO INDEPENDENTE nas eleições de 1994 e FILHO DA FRELIMO MÁRIO MACHEL). Veja lá, Muthisse!

Uma ressalva: o caso Alcido Ngoenha foi meu "lançamento" para a efémera celebridade mediática e quase minha sepultura pelo erro crasso de citar supostos familiares directos de David Simango.

Camarada Muthisse, não denuncio nem acuso, aponto factos e, dizem uns quando entrar na fase do ETC (fim da sabedoria e início da ignorância, segundo um meu professor do secundário), CONTRA FACTOS NÃO HÁ ARGUMENTOS.

Sabes qual é o problema destas práticas? É que enquanto os dos órgãos públicos "passeiam a sua classe" de agentes duplos de forma transparente, os dos órgãos privados o fazem na clandestinidade, muitas vezes ao serviço do "corporate world". É aquilo que um meu ex-colega da redação do SAVANA, por sinal não jornalista, chama inteligentemente de "ENVELOPE JOURNALISM".

Milton Machel disse...

Caro Muthisse,

em MOçambique há muito que o "so-called" QUARTO PODER virou efectivamente QUARTO DO PODER (do "Big Old Party" e do GOVERNO DO DIA).

Queres mais um exemplo para o meu catálogo de promiscuidade?

Um meu ex-colega no único semestre que frequentei na ex-UFICS antes de "fugir" da Academia-Mãe de Moçambique (UEM) e jornalista (eminentemente desportivo) do semanário Domingo acaba de juntar-se (como ASSESSOR DE IMPRENSA, SEM deixar o Domingo) ao elenco do recém-eleito Presidente do Município "Ka Matsolo" Arão Nhancale (até há pouco "dinossauro" Presidente da Federação Moçambicana de Ténis).

Há uns anos, um ex-chefe da redacção do Domingo, ao regressar à Sociedade do Notícias após se formar numa universidade, creio eu na África do Sul, teve dificuldades de se reinserir no Domingo mas durante algum tempo foi editor do suplemento de CULTURA do Notícias enquanto oficiava como assessor de imprensa no então Ministério dos Recursos Minerais e Energia.

Há uns anos, quando no SAVANA portagonizei (escrevi) a estória/manchete MINISTRO DA EDUCAÇÃO DÁ BOLSAS A FAMÍLIA um colega meu jornalista, curiosamente do Notícias, veio pretensamente a soldo do Ministério da Educação propor-me que eu entregasse a minha fonte (que eles desconfiavam fosse um "insider" no caso o Dr. Biché, quando na verdade eu obtivera o documento de uma fonte na ASDI/SIDA)em troca de boas ma$$as (eish, era uma tentação na altura, eu recebia abaixo de 8 mil meticais). Outro colega, um "galáctico" no jornalismo chegou a passar-me o recado de um amigo seu no "partidão" e então uma "rising star" no Governo da chamada Ala Chissanista segundo o qual as minhas matérias seriam vingança EM NOME DO PAI porque tinham cortado as pernas (politicamente e profissionalmente) ao meu pai (o CANDIDATO INDEPENDENTE nas eleições de 1994 e FILHO DA FRELIMO MÁRIO MACHEL). Veja lá, Muthisse!

Uma ressalva: o caso Alcido Ngoenha foi meu "lançamento" para a efémera celebridade mediática e quase minha sepultura pelo erro crasso de citar supostos familiares directos de David Simango.

Camarada Muthisse, não denuncio nem acuso, aponto factos e, dizem uns quando entrar na fase do ETC (fim da sabedoria e início da ignorância, segundo um meu professor do secundário), CONTRA FACTOS NÃO HÁ ARGUMENTOS.

Sabes qual é o problema destas práticas? É que enquanto os dos órgãos públicos "passeiam a sua classe" de agentes duplos de forma transparente, os dos órgãos privados o fazem na clandestinidade, muitas vezes ao serviço do "corporate world". É aquilo que um meu ex-colega da redação do SAVANA, por sinal não jornalista, chama inteligentemente de "ENVELOPE JOURNALISM".

A terminar: É por isso que eu acho que a guerra para se legislar/criminalizar O CONFLITO DE INTERESSES E O TRÁFICO DE INFLUÊNCIAS será, a meu ver, uma "GUERRA SOLITÁRIA" do meu amigo e modelo de jornalismo de investigação MARCELO MOSSE e do seu CIP,terá poucos "allied", "campaigners" ou "champions" por parte dos media. Como reportar/denunciar/investigar o CONFLITO DE INTERESSES quando somos um "millieu" prenhe de CONFLITOS DE INTERESSE.
Meus caros patrícios, desejo, sinceramente, estar enganado...como um fanático de media e do exercício da cidadania, um rebelde por causa e sobretudo patriota, mas o cepticismo mora em mim como uma espécie de optissimismo somente porque sou jovem, recém-chegado à ventura dos 30 e que crê no triunfo do "ESPÍRITO AZAGAIA"...embora defenda que não IT TAKES A VILLAGE como escrevia Hillary Clinton para educar bem uma criança, mas IT TAKES A GENERATION para mudar Moçambique, mesmo com a emergência do fenómeno MDM.

Aquele abraço!

Júlio Mutisse disse...

Milton Irmão,

O seu pessimismo me assusta. Não haverá mesmo como dar a volta a isto? A nova geração... what what what what nada... ??? O mal está no que as empresas jornalísticas(?) podem e aceitam pagar ou na luta desenfreada por não estar ou ser outsider na composição do poder em Mozie?

Milton Machel disse...

Meu irmão Mutisse, eu digo-te de coração aberto: considero-me um membro por direito e de facto da "Geração de Utopia" pós-Libertadores da Pátria, pós-25 de Junho, filhos da Nação ou oitentistas (de facto nasci em 1979, a roçar os 80, por isso sou da geração oitenta, como tu, julgo), mas também me submeto à hegemonia do realismo quase cepticismo pré-pessimismo, por isso que optissimista.

Mas, sinceramente, no Jornalismo Moçambicano, estamos a precisar de um Vinte e Zinco, quero dizer "25 de Junho"!

Aquele abraço!