quarta-feira, 25 de julho de 2007

Uma questão de método

Caros mozbloguistas, tenho andado ausente da blogosfera acometido por problemas de saúde (tinha de fazer um "break" a minha netmania!), mas estou de volta.
Estou a acompanhar vivamente o debate na blogosfera, em vários fóruns online e mesmo de forma dispersa em páginas de opinião dos jornais que se publicam na capital sobre o fenómeno: Dama do Bling.
Lamento que o jornalismo (semanários estão a dormir) não esteja a capitalizar todas estas valiosas contribuições e faça aquilo que o bom jornalismo aconselha, coligir as várias correntes de opinião, reunir em jeito de folhetim e ampliar para ângulos ainda mais problematizadores o debate, buscando contribuição de sectores conservadores (religião, igreja) e revolucionários (academia, artistas).
Como bem escreveu no último SAVANA o Venâncio Mondlane Jr (um jovem "opinion maker" muito esclarecido, uma "fresh mind"!), o fenómeno Dama do Bling (a Ivânia e ao Valdemiro a minha solidariedade) está a cumprir o seu papel de artista, de revolucionário, de "agitador de consciências" nesta nossa sociedade bastante deficitária em tolerância e cultura de debate (prof. Elísio Macamo, Patrício Langa, Iídio Macia, prof. Carlos Serra convido-vos a constituirem uma comissão instaladora dos "campeonatos nacionais de debates" na academia, com a UEM como embrião).
Voltando aos jornais (e por que não televisões, com documentários/grandes reportagens sobre a transformação que a música/arte está a provocar na nossa sociedade...), estão a perder uma grande oportunidade de agarrar num bom tema social (caros sociólogos: o que são os media hoje em Moçambique, afinal: O espelho da sociedade ou a janela para a sociedade?) e agitarem a sociedade moçambicana.
O fenómeno Dama do Bling, criado pela máquina de multi-media (música como indústria cultural, o mass media televisão) é apenas o, digamos assim, efeito-icebergue, dessa Nação fictícia (prof. EM, permite-me dizer que está-se perante um lugar que não existe?) que assalta o País urbano chamado a "Emergência da MoçAmérica". Sobre a Nação MoçAmérica e seus filhos, ainda estou a elaborar mais a fundo, mas só para terminar esta postagem:
A imprensa semanal está a falhar, talvez não por falta de coragem, mas por UMA QUESTÃO DE (DÉFICE DE) MÉTODO para pegar neste fenómeno mediático chamado Dama do Bling.
Quer queiram quer não, estes Ídolos (de caverna) da Nova Geração, a geração discoteca (a outra caverna segundo Saramago, depois do supermercado), estão a gerar assunto (não eles, mas o que fazem, dizem, representam) para media com bom apetite
Já que temos a mania do "copy and paste" de quase tudo "made in Brazil", por que não olhamos como o Brasil dos Media reflecte sobre o papel social dos seus ídolos da "geração funk"? É uma questão de método...

9 comentários:

ilídio macia disse...

Caro Milton, esta de "campeonatos nacionais de debates na academia, com a UEM como embrião", penso que é uma óptima idéia. Aceito o desafio.

Milton Machel disse...

força Ilídio! Esperemos que o prof. Elísio Macamo nos dê mais subsídios, quando se livrar da carga académica na Alemanha. Ele conhece, creio eu, essa experiência dos cultores da racionalidade por excelência (a escola alemã, cujo "métier" é a crítica da razão).

Como diria um dos Ídolos da Nova Geração, amplificados pela máquina publicitária da empresa que representa um dos "valores" mais caros da urbanidade em Moçambique, o show-off: Vamos Embora!


Por uma questão de método, na desportiva, pretendo instituir no meu blog um campeonato periódico (espero, semanal) da Imprensa que se publicam no País.

Haverá uma divisão reservada aos semanários e outra aos diários faxes. Vou tentar comparar o poder de "punch" das suas manchetes, as melhores (colunas de)opinião da semana, a abordagem mais diversificada de temas, a diversificação e melhor exploração dos géneros jornalísticos (entrevista, reportagem, crónica...). Para melhor juízo (que sempre será de valor) vou fazer umas consultas e pedir alguns apoios (espero que eles não as queiram converter em con$ultorias e a$$e$$orias!) a alguns fanáticos de media como eu, quais Bayano Valy e Ericino de Salema... antes de as publicar.
Quiçá, ele e outros bloguistas serão o júri das minhas selecções/nomeações.

Aquele abraço (extensivo ao Nkutumula)!

ilídio macia disse...

Caro milton, tens boas ideias. Espero que a promessa que fazes se concretize. Já falei com Nkutumula e ele agradece o seu abraço. Força, Machel!

Júlio Mutisse disse...

Milton,

É uma ideia excelente.

Talvez espevite um pouco o jornalismo moçambicano para ser mais investigativo e abandone as conferências de imprensa que é onde são colhidas grande parte das notícia que fazem os nossos Jornais.

Esta minha opinião é coroborada pelo meu/nosso amigo Policarpo Mapengo um ex jornalista cultural desencantado, e, se calhar, um dos sintomas disso é todos os semanários ou diários acabarem vindo a rua com o mesmo conteudo.

Aliás, este é um dos desafios que te coloco oh Milton: Usando a sua experiência e saber do jornalismo, acha mesmo que o jornalista moçambicano em Moçambique usa 75% do seu saber na busca de conteúdo para o jornal? A Reportagem não estará esquecida no nosso quotidiano jornalístico?

um abraço.

Milton Machel disse...

Caro Júlio,
1. temos um amigo em comum: o PC Mapengo, meu ex-colega no Campeão.

2. Sobre o jornalismo praticado hoje: a grande reportagem e a grande entrevista praticamente têm sido negligenciadas, no geral. Nisto, o Domingo tem sido a grande excepção, quase todas as semanas brinda-nos com belas incursões ao país real, problematizando o desenvolvimento.
Volto à questão do método para responder a outra parte da tua inquietação (caixas de ressonância, seguidistas de conferências de imprensa): o problema do nosso jornalismo é que é conduzido por eventos (o chamado "event-driven journalism") ou por agendas dos políticos e da chamada "bufaria" (veja-se a cobertura à criminalidade, aos conflitos no seio do MINT/PRM, problemas no meio castrense), isso redunda numa situação que todos temos assistido: imprensa, televisão e meios electrónicos têm-se repetido uns aos outros nos mesmos assuntos e raras vezes com abordagens diferentes. O mal é que o nosso jornalismo tem sido conduzido pelos interesses dessas fontes, que transformam os media no "campo de batalha" e nós, os jornalistas, excitados, ávidos de causar sensação, "caimos na fita", entramos no ciclo vicioso, a reportar sempre as mesmas coisas e "publicitando" os mesmos actores.

Donde, morre o método, não há uma agenda definida que procure englobar os vários problemas com que a sociedade e o país se debatem. Sazonalmente, alguns assuntos saltam para a ribalta como de interesse dos media. mas claramente o interesse público, esse, há muito que está condicionado às agendas daqueles grupos que se monopolizam as manchetes.

Por exemplo: assuntos (que não fazem as manchetes) debatidos aqui na blogosfera e nos fóruns online, por que não são usados como indicadores-amostra de algum interesse público...

obrigado pelo desafio, Mutisse, ainda volto ao assunto, mas espero ter respondido às tuas preocupações.

Júlio Mutisse disse...

Noutro tópico deste blog abordo a questão empresas jornalísticas VS Produção jornalística questionando a questão das estratégias.
O estado das coisas no nosso jornalismo tras me sempre a mente a questão do papel destas (mais do que dos próprios jornalistas) nos conteúdos que nos são dados a consumir?
Que papel pode ter o jornalista enquanto profissional na reviravolta desta situação.
O Milton dá o exemplo do Domingo que continua a fazer reportagem trazendo coisas do Moçambique real. É um facto. Se calhar algumas das empresas que gerem jornais em Moçambique podem não ter "mola" para mandar um jornalista por duas semanas à Maganja da Costa mas, a reportagem não tem que ser necessariamente desses locais. Podemos ter boas reportagens de coisas do nosso quotidiano em Maputo que quando lidas na Beira podem ser interiorizadas como o quotidiano de Moçambique.
We have to do something.

Milton Machel disse...

absolutamente, júlio!

1. há assuntos como:

- um dia na vida de um(a) mukherista, do itinerário e das barreiras que mulheres-coragem têm de enfrentar no negócio do dia-a-dia

- negócios de carros, o lado bom e o lado mau dos "dealers" (nunca li nada sobre esse "paraíso dos carros quentes que é Chókwé), sobre como se compra um carro em Moçambique

- profissão: intermediário de negócio de imóveis. como é a vida deste exército de oficialmente desempregados. Acho que, como muitos cá, deves conhecer os homens da esquina 3S, aquilo é um mercado vivo de imobiliária.

- Como o negócio da telefonia está a mudar a vida de muitos moçambicanos: do Onecell e dos revendedores de recargas

- profissão: mecânico. quantas garagens há por aí no meio urbano que cria autênticas escolas de miúdos.

- "liga dos supermercados": o que nos diz o imponente Maputo Shopping Centre do consumismo em Maputo, depois dos Game, shoprite, Polana Shopping Centre, Tiger Shopping Centre... será que nos grandes circuitos comerciais entram produtos nacionais ou é tudo importado? que faz o orgulhoso "made in Mozambique" nisto? são temas de cariz sócio-económico que mexem com o bolso e a barriga do cidadão comum, desde o produtor lá no campo até o consumidor no centro urbano.

- e, já agora, "picando-te" um pouco. O "business" da lei, quantos escritórios de advogados existem, esse é um bom negócio? já se escreveu sobre as firmas de advogados, sobre a concorrência no sector? sobre como e onde elas recrutam os talentos? sobre o que é ser advogado em Moçambique? há uma percepção, quiçá errada, de ver vocês os juristas/advogados como caça-níqueis, o jornalismo tem de desmistificar isso...

- O negócio da responsabilidade social corporativa: quem faz o quê e beneficia a que comunidades? será que as empresas estão a devolver a sociedade o que ganham ou não passa de mais um reforço da sua "brand"? que iniciativas, programas, acções de responsabilidade social corporativa e de investimento social corporativo estão a ser levados a cabo pelo país?


Bem, poderia listar aqui um sem número de assuntos de interesse público e âmbito nacional, de agenda de desenvolvimento, como a revolução na comunicação possibilitada pela "fibra óptica" (qual o efeito-multiplicador disso economica e socialmente? só leio que é a "espinha dorsal" das telecoms e tv's, mas o que é isso na vida do cidadão, na transformação do país...).

Bem dito, Júlio, a responsabilidade maior está nas empresas jornalísticas (criar condições), mas devemos ser nós os jornalistas a convencermos aos nossos patrões dos ganhos de investir em reportagens pelo país profundo.
As empresas jornalísticas, por que se trata de negócio puro, bem que podem ir aos bancos, às empresas, apresentar projectos de investigação que podem ser inclusive de interesse desses negócios.

a luta continua!

chapa100 disse...

machel! tenho lido com certa irregularidade alguns jornais mocambicanos. ate agora estamos perante um problema serio de metodologia e professionalismo. o outro problema tem haver com o conceito de pais, no seu perfil geografico, economico e socioantrpologico. ha um pais pais que existe fora das redacoes.um pais que e noticia e que nao e explorado na imprensa. copiando o patricio langa, temos na nossa imprensa muitos "ignorantes motivados" na area jornalistica.

entre desabafos e fofocas, vai-se contruindo um jornalismo bastante perigoso. que nao informa e nem oferece referencias metodologicas para um fazedor de opiniao. a gente le para saber o que interessa nas redacoes e nao o que interessa ao publico, a sociedade. e ate que ponto o pais exige e como exige um jornalismo de boa qualidade? esse devia ser um bom objecto de analise.

Patricio Langa disse...

caro Milton. Antes de mais desculpe-me a resposta tardia.Em segundo lugar, dizer que acho a ideia do "campeonato de debate de ideias bem vinda". O desafio seria interessante.