quinta-feira, 5 de julho de 2007

A morte do Semanário em Moçambique I

Por me ter formado como jornalista, primeiro consumindo semanalmente jornais de referência quais Mail & Guardian, Expresso e o defunto (português) Independente, depois trabalhando em redacções de semanários do país, essa minha experiência convenceu-me de uma coisa: o melhor jornalismo, em geral, e o melhor jornalismo de imprensa, em particular, faz-se num semanário. Porque um semanário possibilita-nos desenvolver um trabalho mais completo, na forma e no conteúdo.
Na forma porque podemos num só tema/matéria praticar/desenvolver em simultâneo vários géneros jornalísticos (a reportagem como colorário de todos eles, a entrevista como complemento daquela, o comentário ou reporter's notebook/apontamento de reportagem e mesmo a crónica, senão mesmo uma análise dos factos) e inserindo neles um estilo que cative/embale o leitor na estória.
No conteúdo porque se nos dá campo para explorar todos os ângulos possíveis para trazer a matéria aprofundada (não precisa propriamente ser extensa), para não dizer praticar aquilo que todos dizemos faltar no jornalismo de imprensa actual e ninguém se digna a "financiar": jornalismo investigativo.

Vem esta introdução a propósito da crise (de criatividade e daí de vendas) dos semanários no país. Quando um jornal faz manchete de um assunto que está na boca do povo, é notícia dos diários, matéria de telejornais com requintes de espectaculosidade, e difundida/debatida em programas de rádio, precisa esse semanário, no mínimo, suscitar interesse no leitor. Dou dois exemplos:
1. o Zambeze de hoje titula na sua capa: Criminosos controlam Maputo. Grande novidade!, tanto mais que limita-se na sua matéria a fazer uma resenha dos casos já reportados para justificar a sua manchete. Algo de novo? Absolutamente!

2. O SAVANA de semana passada faz manchete com uma estória que não é propriamente nova mas o título em si traz algo de novo porque sugere que está em curso no município da Beira uma Revolução Matsanga, com a atribuição do nome de André Matsangaíssa a uma rotunda local e com a proposta em carteira de mais "heróis" beirenses (Dhlakama, Uria Simango, Dom Resende, Dom Jaime Gonçalves) para ruas e praças.
Aquele título suscita, naturalmente, as mais fortes emoções quer do povo (conhecemos o "fenómeno Matsanga" que a propaganda política dos anos oitenta se nos inculcou à mente), quer da Frelimo ao salpicar a sua auto-estima... e obviamente eleva de certa maneira o orgulho beirense, o berço da Resistência contra certa hegemonia política étnico-regional solidificada nas lideranças da frente/depois partido/depois Governo-Estado...

Em Moçambique, os jornais semanários só resistirão à primeira morte (entanto que falência do seu modelo de informação ou do papel que desempenham no panorama da informação) e à segunda e definitiva morte (quebra de vendas e posterior falência/desaparecimento do título da praça) se souberem aplicar a fórmula que o bloguista/estudioso de jornalismo Juan Antonio Giner sugere num texto que ele intitulou de "The Death Of The Weekly" (A Morte do Semanário): "Like newspapers, news magazines can not survive just digesting last week’s news. Explain and advance. Anticipatory journalism is the new name of the game."
Traduzindo, ele avisa: "como os jornais, revistas de informação não podem sobreviver de simplesmente resumirem/recapitularem notícias da semana anterior. Explicar e avançar. Jornalismo antecipatório é o novo nome do jogo".
Eu acrescentaria: contar estórias, entanto que exploração da matéria de uma modo narrativo cativante...

Só assim, perante a hegemonia na captação da grande publicidade (corporativa ou estatal) detida pelo Notícias, a ameaça conjuntural dos Jornais Gratuítos, o lugar de "agenda setter" assumido pelo agressivo (sensacionalista) jornalismo da STV é que semanários como SAVANA, Zambeze, Magazine Independente vingarão...

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