quarta-feira, 4 de julho de 2007

Rendição ao Capital

O meu ex-mestre e colega de profissão Jeremias Langa, acabadinho de chegar da terra do tio sam, nem tanto deslumbrado tipo "Soy Loco Por Ti America!", antes denotando equilíbrio nas suas "autópsias aos Estados Unidos", brinda-nos esta semana na sua coluna "em jeito de fecho" com uma crónica que, fora procurando compreender o antagonismo (as diferenças e pluralidades que fazem deste mundo globalizado ainda melhor) entre o a América do "bling bling" e o Islão extremista, revela mais do que tudo a sua conversão ao Capital, esse espectro que Marx avisou ameaçava a Europa há uns séculos e hoje é o Deus.
A conclusão de Jerry é lapidar: Tudo gira, então, em torno de... dinheiro. E ainda alguém é capaz de dizer que o dinheiro não compra tudo?

Não resisto, pois, a fazer um convite à filosofia, para que os sociólogos que abundam na nossa blogosfera dêem o seu parecer a esta rendição de um líder de opinião. Na mesma semana, aliás, em que o Editor do MAGAZINE INDEPENDENTE, Lourenço Jossias também releva a sua rendição ao capital. Os jornalistas, afinal, deixaram de ser revolucionários? abandonaram a esquerda? passaram do lado do proletário para a bancada dos capitalistas?

A América e o Islão
29/06/2007
Jeremias Langa
Os Estados Unidos da América e os estados árabes são uma espécie de duas faces, aparentemente, irreconciliáveis. Os EUA são um país excessivamente liberal para encontrar espaço nos rígidos e por vezes inflexíveis padrões do Islão. O Islão é demasiado conservador para ser aceitável nos paradigmas da cultura americana. Do mesmo jeito que é inaceitável a uma americana a ideia de não poder tocar, beijar e namorar com um homem em público, é inconcebível aos olhos do Islão que uma mulher apareça em revistas ou na TV completamente nua. São duas realidades não só diferentes, como por vezes, na maioria das vezes, melhor dizendo, antagónicas.
Na verdade, a relação entre a América e o Islão nunca foi propriamente sadia. Primeiro, por força da crescente influência americana no Médio Oriente e, sobretudo, do incondicional apoio de Washington a Israel.
Sendo amigo do seu inimigo, a América passou a ser, para os estados árabes, também ela um inimigo de estimação, uma espécie de país infiel, que profana o Islão por força do seu, por vezes, excessivo liberalismo. O episódio do 11 de Setembro veio apenas exacerbar os ânimos, pelo facto de os americanos, desde então, terem associado o terrorismo ao Islão.
Sucede, no entanto, que após o 11 de Setembro o número de muçulmanos que procura viver na América disparou em flecha e, hoje, há pouco mais de 6 milhões de cidadãos professantes do Islão que escolheram o espaço territorial dos Estados Unidos da América para fazer a vida. Contraditório, não é?
Contraditório ou não, certo é que a América está, estranhamente, a se transformar num espaço privilegiado de fecundação daquilo que mais parece abominar, pelo que hoje já há um considerável número de cidadãos americanos assumidamente muçulmanos.
Isto remete-me a duas leituras. A primeira: de que estamos em presença de uma prova cabal de que é também da acomodação das suas contradições que se constroem as grandes nações. A segunda: de que os interesses económicos tendem a superar todas as diferenças, mesmo que elas sejam ideologicamente profundas.
Por isso, a América abomina o Islão, mas não desdenha o valor acrescentado que os seus professantes levam à sua musculada economia. O mesmo sucede com os muçulmanos: odeiam a América, as suas políticas, as suas gentes, mas adoram o bem-estar e as oportunidades que a prosperidade americana lhes proporciona.
Tudo gira, então, em torno de... dinheiro. E ainda alguém é capaz de dizer que o dinheiro não compra tudo?

1 comentário:

Bayano Valy disse...

Milton,
Seja bem vindo. Aínda não tive tempo para responder ao Jeremias Langa pelo artigo. Mas pra semana prometo que ele será obrigado a estampar a minha resposta no seu jornal. O texto tem muitas lacunas que nem queijo suiço. Uma forma muito simplista de ver as coisas. Não tinha nada para escrever.
Um abraço