quinta-feira, 5 de julho de 2007

Desaparecimento do jornal meia-noite

Surgiu há alguns meses um jornal semanário que muito prometia e que trazia com ele três novidades: o preço de capa baratíssimo (7,00 meticais contra 20,00 meticais da generalidade dos semanários) para um volume de pelo menos 4o páginas por edição, uma equipa de colaboradores/colunistas respeitáveis (passaram por lá Lourenço do Rosário, Elísio Macamo, Calane da Silva, Ungulani Ba Ka Khossa, Jorge Dias nas artes plásticas...) e tinha ainda a Produções LUA para obras literárias. Esta, noticiada pelo jornal O País como editora pertença do cidadão Armando Guebuza, chegou a publicar dois livros, um de Elísio Macamo (Um País Cheio de Soluções) e outro de poesia do poeta Armando Guebuza.

Subitamente, desapareceu das prateleiras. A mesma sorte já tiveram jornais que se pretendiam (e chegaram a ser) de referência como DEMOS, EMBONDEIRO...
E há bem pouco tempo Salomão Moyana vendeu o Zambeze e aventurou-se para um jornal a cores e impresso na África do Sul, designado peculiarmente por MAGAZINE INDEPENDENTE.

Nos últimos anos tem sido assim, nascem e morrem jornais, os quais basicamente são novidade apenas pelo título, mas não trazem nada de propriamente novo na forma e no conteúdo. É de louvar o passo que Salomão Moyana deu: a cor e quatro páginas em língua inglesa. Mas, será que isso bastará para vencer no mercado editorial nacional?
O que está a falhar no panorama da imprensa escrita nacional, à qual podemos acrescentar as publicações electrónicas (abundam jornais FAX que na generalidade passam as mesmas notícias e nem em estilo divergem), para que se firmem?

6 comentários:

Egidio Vaz disse...

Caro Milton, um assunto como este merecia um debate prolongado.
Veja que na verdade o "negócio de jornais" anda de vento em pompa, se bem que a qualidade se mantenha a mesma.
Se calhar pudéssemos introduzir uma pergunta: quem deve ser Jornalista em Moçambique? Que perfil seria de lhe desejar?
Podemos criticar a vertigem da emergência desses jornais, mas se não nos atentarmos sobre o factor humano, quase nada poderemos andar.
Um abraço.
Egídio.

Milton Machel disse...

Correcto Egídio!

Propões que olhemos primeiro para o criador (jornalista) antes de dissecarmos a criatura (jornais). É um ângulo de abordagem, vamos a isso!

A tua pergunta tem um elemento interessante: Quem DEVE ser jornalista? E o panorama actual (de mediocridade na generalidade) responde a outra formulação: Quem PODE ser jornalista?
Vou procurar documentar-me com a proposta da Carteira de Jornalista, a Nova Lei de Imprensa, bem como olhando para o que é produzido nos Media, ou seja, fazer jogo de espelhos entre a teoria e a prática, sem ofensas mas em busca da verdade.
aquele abraço

Egidio Vaz disse...

Não me parece que a carteira ou a lei da Imprensa venha a melhorar as perguntas que melhor me ajudou a formular.
Se calhar, pudéssemos avançar para outras:
-Qual o lugar que o jornalismo e seus praticantes ocupam na sociedade moçambicana (refiro-me ao prestígio e o reconhecimento que se presta ao seu trabalho)? Depois, decorrente dessa representação, talvez pudéssemos fazer a segunda pergunta:Quem DEVE ser jornalista?
E depois, quem Pode?
Por fim, que formação gostaríamos que os jornalistas tivessem (aqui incluo a académica, ética, deontológica etc).
Por fim, quanto é deveria ser pago?
Depois deste debate, veremos que estamos à milhas daquilo que desejamos que fosse. Claro que existem alguns (no teu caso e noutros com empregos melhores) que folgam e pensam para além do amanhã-....
Abraço.
Volto.

Júlio Mutisse disse...

Desapareceu o meia noite como antes desaparecera o Campeão, Embondeiro, e alguns outros (nesta o Renato Caldeira já vai com dois títulos mortos).

A pergunta que me ocorre perante isto é: será problema dos jornalistas ou (falta) de estratégia (no geral) das empresas jornalísticas?

O Savana existe faz tempo. É se calhar o jornal "privado" mais antigo o que é que faz o savana o que é que outros jornais não conseguem ser?

Conteúdos? Me parece que não. Parece mais uma gestão criteriosa das empresas que sustentam essa publicação.

Nesta perspectiva acho que não basta apenas juntar um grupo de bons jornalistas para formar uma empresa jornalísitca, qualquer que seja. É necessário que se definam estratégias de posicionamento da empresa no mercado em todas as perspectivas.

Milton Machel disse...

caro júlio,

os jornais que nascem da dissidência ou fuga para a iniciativa de ex-empregados ávidos de serem patrões, editores, directores editoriais, não fazem nada de novo...fazem o mesmo na produção (editorial) dos conteúdos (muitas vezes com menos qualidade), gerem da mesma maneira a máquina de distribuição, recorrem aos mesmos assinantes... porque, ao fim e ao cabo, não têm proposta editorial nova ou inovadora. São repetidores. E pior, não se associam a gestores, investidores que olham para a imprensa como negócio sério.

O SAVANA tem uma grande vantagem sobre todos os outros: é uma marca firmada!

E aqui está outra componente ignorada pelos fazedores de jornais, criar uma marca, associar-lhe novas formas de fazer o negócio de venda de notícias.

Mas o grande problema continua, cá por mim, a residir no conteúdo. Um muito bom jornal em termos de matérias, estilo de abordagem, apresentação gráfica atractiva, pode vingar neste mercado. Bons jornalistas, matérias interessantes, podem superar o défice na máquina de gestão. E imagina, tu, a combinação das duas, o que fará!

E é preciso reconhecer que a qualidade dos fazedores caiu bastante. Há editores que ascenderam a esse estatuto por serem seniores de anos de profissão e não porque os anos os tornaram mais inteligentes, mais criativos, mais inovadores revolucionários...antes acomodaram-se às práticas adquiridas.

E, depois, não há caça-talentos nos nossos Media, o que existe é transformação dos que apareceram a pedir emprego em figuras pelo simples facto de assinarem trabalhos...

Hoje uma simples matéria (sensação do momento) pode criar um "grande jornalista", mas já jornalistas que façam dum assunto negligenciado uma grande matéria... lá isso é uma "avis rara".

Milton Machel disse...

Júlio, volto à carga sobre o lugar do SAVANA.

Não é apenas uma marca firmada no mercado... tem a melhor selecção de colunistas do País, pergunte aos frelimistas (que mais do que temer um escândalo sobre si a rasgar a machete do jornal verde, procuram rever os seus actos e falas nas críticas da plêiade do SAVANA...