Chamava-se Oriana Fallaci. Era uma grande jornalista, mestre do género mais fácil de se executar (porque se ser jornalista é perguntar, então qualquer um pode sê-lo, basta apenas ter coragem de...perguntar) pelos jornalistas e paradoxalmente o mais difícil de dominar pelos jornalistas (porque perguntar, jornalisticamente, é questionar, é problematizar, é contra-argumentar sem opinar).
Os meus camaradas de ofício, Nelson Saúte, Ericino de Salema e Policarpo Mapengo adoram citá-la, como o paradigma do bom entrevistar. Uma das mais famosas obras de Fallaci foi precisamente “Entrevistas Com a História”. Fiz esta menção-homenagem a Fallaci a modos de saudar o regresso da Grande Entrevista aos media nacionaisk, mormente STV/O País e Jornal SAVANA. E, curiosamente, parece que todas elas com um propósito quase que combinado, articulado: entrevistar figuras-chave na história do País para trazer à esfera pública o debate da nossa história.
São, pois, “entrevistas com a história”, aquelas que nos últimos três meses vimos desfilar no SAVANA, na STV e no País, com Jorge Rebelo, Jacinto Veloso, Graça Machel e agora Sérgio Vieira. Faltam-me, parece, nesse círculo de entrevistas figuras como o recém-homenageado “causídico primeiro” Domingos Arouca (como fonte alternativa e capaz de desfrelimizar a nossa visão da nossa história), Malangatana Valente Ngwenya, Lina Magaia. Espero, sinceramente que venham desfilar mais figuras desse porte na nossa história, e sobretudo os media nos ofereçam fontes alternativas.
Do cruzamento dessas fontes, das leituras nas entrelinhas do que eles (não) dizem, quem sabe construiremos o desígnio a que convidou-nos Severino Ngoenha: “Por Uma Dimensão Moçambicana da Consciência Histórica”.
Só com Consciência Histórica podemos almejar e empreender o Desenvolvimento. E Só com História – inabalável, factível, desfrelimizada - podemos ter Consciência Histórica, Causa Comum (a luta pelo Bem Comum) e só assim o Projecto Nação se realiza...
Caso contrário, continuaremos a ser uma sociedade em que somos Predadores de Nós Próprios, Estrangeiros de Nós Próprios, em que o individualismo arrivista e autofágico, qual corrida ao capital, impedirá que grandes propósitos como o ditoso Combate à Pobreza.
Eis que me regozijo pelo meu tão almejado papel dos media na (re)construção da nossa história. Espero que seja uma Agenda Consensual dos Media, em nome do Interesse Nacional.
Os meus camaradas de ofício, Nelson Saúte, Ericino de Salema e Policarpo Mapengo adoram citá-la, como o paradigma do bom entrevistar. Uma das mais famosas obras de Fallaci foi precisamente “Entrevistas Com a História”. Fiz esta menção-homenagem a Fallaci a modos de saudar o regresso da Grande Entrevista aos media nacionaisk, mormente STV/O País e Jornal SAVANA. E, curiosamente, parece que todas elas com um propósito quase que combinado, articulado: entrevistar figuras-chave na história do País para trazer à esfera pública o debate da nossa história.
São, pois, “entrevistas com a história”, aquelas que nos últimos três meses vimos desfilar no SAVANA, na STV e no País, com Jorge Rebelo, Jacinto Veloso, Graça Machel e agora Sérgio Vieira. Faltam-me, parece, nesse círculo de entrevistas figuras como o recém-homenageado “causídico primeiro” Domingos Arouca (como fonte alternativa e capaz de desfrelimizar a nossa visão da nossa história), Malangatana Valente Ngwenya, Lina Magaia. Espero, sinceramente que venham desfilar mais figuras desse porte na nossa história, e sobretudo os media nos ofereçam fontes alternativas.
Do cruzamento dessas fontes, das leituras nas entrelinhas do que eles (não) dizem, quem sabe construiremos o desígnio a que convidou-nos Severino Ngoenha: “Por Uma Dimensão Moçambicana da Consciência Histórica”.
Só com Consciência Histórica podemos almejar e empreender o Desenvolvimento. E Só com História – inabalável, factível, desfrelimizada - podemos ter Consciência Histórica, Causa Comum (a luta pelo Bem Comum) e só assim o Projecto Nação se realiza...
Caso contrário, continuaremos a ser uma sociedade em que somos Predadores de Nós Próprios, Estrangeiros de Nós Próprios, em que o individualismo arrivista e autofágico, qual corrida ao capital, impedirá que grandes propósitos como o ditoso Combate à Pobreza.
Eis que me regozijo pelo meu tão almejado papel dos media na (re)construção da nossa história. Espero que seja uma Agenda Consensual dos Media, em nome do Interesse Nacional.
A opinião de Noé Nhantumbo
A propósito das Entrevistas Com História, transcrevo uma opinião de uma das vozes mais críticas ao regime, que escreve directo do Chiveve, Noé Nhantumbo – sem que subscreva completamente a sua opinião, publicada na edição de segunda-feira, 18 de Agosto do Canal de Moçambique, confesso que aprecio alguns dos seus posicionamentos...com muita carga de “bias” é claro, mas opiniões próprias... porque eu adoro o dissenso!
Canal de Opinião: por Noé Nhantumbo, Entrevistas com ilustres e ziguezagues discursivos
Muita palha pouco arroz...
Beira (Canal de Moçambique) - A única coisa de interesse que se deve dizer é que finalmente algumas vozes entre os ilustres libertadores se começam a ouvir. Parece que de uma maneira ou de outra, certas pessoas que tiveram o mérito de consentir sacrifícios para Moçambique fosse um país independente estão conseguindo vir a publico contra um pouco daquilo que são as suas ideias. Aquilo que não conseguem dizer pode-se ler nas entrelinhas. Pelas perguntas que os jornalistas se atrevem a fazer e pelas respostas pode-se concluir que parte dos nossos libertadores não está satisfeita com o rumo das coisas no país. Claro que não é fácil de um momento para outro renegar todo um passado. Também julgo que não se pretende isso. O que os moçambicanos pretendem e necessitam é que a discussão dos assuntos do país não seja centralizada na capital e que tais assuntos tenham também como referencia aquilo que pensam os outros cidadãos no país. Afinal ninguém é proprietário absoluto da razão e o país não é só Maputo, como é óbvio. As entrevistas que recentemente tem passado nos órgãos de informação tem um aspecto positivo que é colocar pessoas importantes a falarem. Está claro que não há concordância mas que também existe relutância em se colocarem ao lado dos que defendem que a liderança nacional está falhando em muitas das opções escolhidas. O socialismo que existia nas mentes de alguns desapareceu e agora, como órfãos desprotegidos, procuram dizer aos moçambicanos que não estão arrependidos pelo que fizeram no passado. São afirmações circunstanciais e que acontecem numa situação em que ainda gozam de uma protecção que o regime do dia lhes oferece. Se a situação fosse diferente é de imaginar que alguns deles já teriam ido para o exílio, embora não seja isso que se recomenda pois só em liberdade, se poderá discutir e escrever a verdadeira História. Nota-se em quase todos os discursos e entrevistas que as pessoas não estão preparadas para reconhecer que houve muitos erros e excessos da parte daqueles que se diziam com razão e defendendo alegadamente a linha revolucionária no quadro do movimento de libertação de Moçambique. De toda a experiência relatada nas entrevistas que alguns ilustres dão, é de notar a fuga perante perguntas pertinentes e que os moçambicanos precisam de saber. Não conseguem dizer abertamente que as coisas andam mal porque o partido no poder ficou vazio de iniciativas. Não há uma linha clara de orientação ideológica. As pessoas aproveitam tudo o que podem neste capitalismo selvagem de génese nitidamente política e sobretudo partidária. Hoje os companheiros de ontem aparecem falando, mas não conseguem dizer que o que os unia já não existe. Hoje os valores que se defendem são as contas bancárias e os palacetes, os terrenos, os hotéis, as estâncias turísticas, as empresas de telecomunicações, as participações no capital de empresas de transporte ferroviário. Hoje o luxo já não é inimigo da revolução como se ouvia dizer num passado relativamente recente. Infelizmente os entrevistados não nos conseguem explicar como foi que camaradas seus de repente se tornaram capitalistas. Não tem explicação plausível a origem da depredação do parque industrial estatal, nem da destruição da rica experiência de capitalismo estatal que existia. Hoje tudo o que de positivo havia sido feito nos tempos da primeira república foi propositadamente enterrado como se de algo com peste se tratasse. O aparecimento de alguns ilustres falando é de facto importante e interessante. Mostra que afinal a tal discussão interna dos assuntos ao nível de seu partido não é tão linear como querem fazer entender. Quando aparecem trânsfugas é porque não existe ambiente interno para a discussão ou abordagem de assuntos considerados importantes. Quem afirma que não existem alas na Frelimo esta mentindo com os dentes todos. Existem, mesmo que seja ao nível do capital acumulado por aqueles que tiveram êxito e os que se deixaram ficar a dormir na hora da repartição do espolio, ou que foram simplesmente esquecidos devido à sua marginalidade ou alegada falta de importância no contexto em que realizavam as partilhas. O centralismo declaradamente existente no capítulo da deliberação dos caminhos a seguir, não oferece espaço para que alguns dos ilustres se façam ouvir. Até porque já não fazem parte dos órgãos centrais do partido nomeadamente a sua Comissão Politica. Aquele poder que algum dia tiveram no passado já não existe. A sua tentativa estóica de defender factos que todos sabemos não corresponder à verdade é um serviço para o seu partido de sempre. Só que este partido já não é o mesmo. Moçambique precisa de mais intervenções de pessoas que tiveram um passado relevante na sua história. Só que isso tem de significar apresentar opiniões que ajudem o país a desenvolver-se e não aparecerem pessoas que nos queiram fazer engolir sapos vivos e a história falseada. É uma situação caracterizada por uma avalanche discursiva sem qualquer relação concreta com os procedimentos que fazem falta. Mostra-se um exercício sem utilidade prática. E se excluirmos os claros objectivos eleitoralistas que esses exercícios encerram, pouco mais resta. Falta uma grande dose de coragem da parte dos ilustres entrevistados para avançarem com ideias que julgamos que terão quanto à situação concreta que se vive. Não estamos dispostos a acreditar que nada tem a dizer quanto ao estado lastimável da actuação da administração da justiça, da polícia, das opções na agricultura, de migração, da banca e de muitos outros temas. Nada é tão linear como nos procuram fazer entender. A falência do marxismo que alguns se dizem defensores não foi obra do acaso. A sociedade de características liberais que o substituiu mas na verdade sociedade dependente de todos um pouco, também não é fruto de altruísmos. Espera-se que as poucas entrevistas públicas oferecidas sejam o início de um debate profundo envolvendo moçambicanos de todas as sensibilidades em prol de um progresso que inclua todos. A vida deste país não se pode limitar a Maputo, aos seus bairros nobres onde habita a nomenclatura. A discussão dos assuntos de interesse nacional não se pode circunscrever a supostos detentores da razão. Aqueles que vivem no limiar da dignidade humana, os habitantes dos subúrbios e das zonas rurais deste país também deram parte de si para que este país se tornasse independente. Importa com urgência desmistificar uma tendência de idolatrar lideres e coloca-los em pedestais como se de pequenos deuses se tratasse. Os dirigentes de uma república que se pretende democrática devem estar mais perto dos cidadãos e acessíveis aos mesmos. Cabe aos ilustres libertadores e a todas as forças políticas deste país reinventar a política em Moçambique. O que tem sido feito e dito é demasiado pouco. A repetição de discursos por parte de certos políticos mostra um esgotamento evidente. Fora daqueles slogans com que infelizmente nos habituaram, já não possuem alternativas válidas para apresentar ao país e também não querem permitir que outros moçambicanos se façam ouvir. Tem de ficar claro para todos que a exclusão dos outros diminui as possibilidades de fazer avançar o país. Ficam diminuídas as oportunidades de usar recursos humanos que existem. Os insucessos que se assistem são resultados da exclusão dos outros e de uma teimosia histórica de admitir que quem não participou na luta de libertação nacional também é moçambicano com opiniões validas. São posicionamentos extremos como esses que nos colocam na cauda do mundo em termos de desenvolvimento. Esperamos que os ilustres libertadores que ainda existem ajudem com o seu saber e contribuam para que a reconciliação nacional tão necessária se concretize. Só que isso tem de ser fruto de diálogos abertos para aprendermos a não ter medo dos outros...
Sem comentários:
Enviar um comentário