Caros colegas bloguistas, chegou ao fim um ciclo da minha "condicao intelectual" de bloguista, e volto ao activo na minha carreira de Jornalista. Porque este meu blogue pretendeu sempre ser um espaco imparcial, isento, independente sobretudo, na observacao e analise dos fenomenos e efeitos mediaticos em Mocambique, o meu regresso ao Jornalismo activo condiciona tais pressupostos/principios da minha actividade aqui.
Um dia voltarei...
Aquele abraco amigo
segunda-feira, 8 de junho de 2009
quinta-feira, 9 de abril de 2009
O “caso Muananthata” e a promiscuidade no jornalismo moçambicano
“Moçambique enferma do síndroma de permissividade” (Ungulani Ba Ka Khossa)
“Toda a sociedade que não é esclarecida por filósofos é enganada por charlatães” (Condorcet)
1. Estava à procura desta oportunidade! Eu, Milton Cesário Banze Machel, me confesso, nestas coisas sou um oportunista, um verdadeiro “mahupeiro” da estirpe de “Totó” Schillaci nas peladinhas do “xipawana” e do “gulamussene”! Por isso, venham comigo neste “tour de force” ao meu estado de inquietude, quando o assunto é jornalismo moçambicano: essa minha eterna amada, qual “aquela cativa que me tem cativo” de Camões, esse meu mal-me-quer, bem-me quer...
Comemora-se sábado, 11 de Abril, mais um Dia do Jornalista Moçambicano, como entrada assim para mais um mês e meio dedicado à Liberdade (esse valor-supra sumo à existência do homem, como ser social e animal político). Por ocasião disso, o Conselho Superior da Comunicação Social (CSCS) e o Sindicato Nacional dos Jornalistas (SNJ) decidiram promover um debate subordinado ao tema “O Desenvolvimento da Comunicação Social em Moçambique: Aspectos Legais e Éticos”.
Diria o meu bom escriba amigo, eterno camarada de ofício (o destino dos poetas são as palavras...) e escrevedor de destinos, Nelson Saúte – a quem roubei esse vício/pretensão de ser enfático e peremptório –, “É salutar!”, esta iniciativa do CSCS e do SNJ.
Saudável - acrescentaria o meu professor bloguista da cadeira de Dúvida Metódica: Elísio Macamo - pelo facto de termos de ser uma sociedade de debate. Louvável, diria eu, neste País que cultiva os Feriados, as Tolerâncias de Ponto e as Efemérides como “momentos de reflexão” qual sociedade de filósofos (diz Karl Popper, o homem da Sociedade Aberta, que todos os homens são filósofos...uns mais do que os outros, acrescentariam os que se querem “exclusivisar” no Clube dos Filósofos, reservando-lhe o direito de admissão).
Oportunista como gosto de ser, aproveito este ensejo do debate promovido por aqueles organismos tutelares dos media e da profissão de jornalista para os provocar e a toda a sociedade moçambicana alcançável via blogosfera sobre dois pontos que balizam o tema do debate de sexta-feira, 11 de Abril de 2009: o Legal e o Ético.
2. O recém-despoletado “Caso Muananthata” serve de mote para as questões que a seguir levanto e que, a meu ver, são de certo modo reveladoras do Estado dos Media (pois, para mim, quem faz o Estado, as instituições e as organizações é o homem que neles desempenha papéis e funções, se eu fosse Nicolau de Copérnico ou Galilei Galileu enunciaria a Teoria Homocêntrica, que o Homem é o Centro do Universo, e que tudo gira à volta dele, mesmo que os teo-fundamentalistas de hoje me condenassem à fogueira!).
Para quem não sabe, o “Caso Muananthata” foi assim baptizado porque há umas semanas o Governador da Província de Tete, Ildefonso Muananthata, foi acusado pelo jornalista do “Notícias” Bernardo Carlos de o ter, alegadamente (ou supostamente?, como gostam os jornalistas de escrever), ameaçado de morte: a polémica é que o Governador estaria desgostoso com os escritos “rebeldes” (palavra minha) daquele jornalista do matutino dito oficioso, e que por via disso teria dito que ele corria risco de acabar como a legenda do Jornalismo (de Investigação) Moçambicano Carlos Cardoso, pois Bernardo Carlos poderia “perder esse cotovelo com que me acotovelas”.
Depois do “j’accuse” de Bernardo Carlos e supostamente o testemunho de quatro colegas de profissão que presenciaram a cena, e com a consequente mediatização do caso (não era para menos!, poderá tratar-se de um atentado à liberdade de expressão e uma ameaça à vida do Bernardo Carlos, se provada em sede própria) tudo virou do avesso.
Do “j’accuse” de Bernardo Carlos passou-se para uma autêntica sessão de “jaccuzi”: três dos colegas (por sinal dois em órgãos públicos, TVM e RM) desmentiram ter testemunhado em favor de Bernardo Carlos e de subscreverem os termos da acusação, enquanto um (do Diário de Moçambique) fincava pé que sim, é(ra) verdade o que acontecera e tal como se descreve que aconteceu.
O caso não ganharia contornos suspiciosos e não me levaria a colocá-lo no “cesto da promiscuidade” se a figura responsável pela sua clarificação ou resolução não desempenhasse os duplos papéis que a media lhe atribui: delegada provincial da secção moçambicana do MISA e adida de imprensa do Governo Provincial de Tete. Como disse!? Delegada do Media Institute for Southern Africa/Instituto de Comunicação Social para a África Austral e em simultâneo adida de imprensa do Governo de Tete!
Aí é! Qual a fronteira, na actuação que ela teve neste caso e no desempenho da sua função no MISA, entre o defender os interesses do jornalista e da liberdade de imprensa vs defender interesses de quem lhe paga o salário como assessora para a ligação com os media? Onde está o Legal da questão? Onde está o Ético da questão?
3. Porém, para demonstrar que não se trata de um caso isolado nos nossos media, chamo à vossa atenção estes casos que para mim entram no “catálogo da promiscuidade” e são auto-ameaças ao exercício da liberdade de imprensa, à independência, à imparcialidade, à isenção (espero que o adido de imprensa do Ministério do Trabalho e às vezes jornalista do semanário desportivo Desafio, Jafar Buana, não venha brandir que está aqui mais um caso que prova que a blogosfera moçambicana é espaço para se acusar pessoas e lesar honras e reputações).
- O até há pouco tempo representante das Empresas Jornalísticas (entenda-se sindicato dos patrões da media privada no CSCS), para além de ser jornalista em pleno direito no seu O Popular Fim-de-Semana, é(ra) assessor de imprensa da empresa que brilha “amareladamente” no “Big Five” do índice das 100 Maiores Empresas de Moçambique da firma de consultoria e auditoria KPMG. Pergunto pela segunda vez: Onde está o Legal da questão? Onde está o Ético da questão?
- Enquanto durou o mandato de David Simango como Ministro da Juventude e Desportos (MJD), até ele assumir a Presidência do Município de Maputo, o assessor de imprensa do Ministério da JD era um redactor (jornalista) desportivo do matutino “Notícias” – curiosamente, ele é meu ex-chefe de redacção no saudoso e extinto jornal “Campeão”. Coincidentemente, ele foi substituir outro jornalista do mesmo jornal que assessorava o bonacheirão Joel Libombo nos últimos anos do seu mandato de MJD. Repito a questão: Onde está o Legal? Onde está o Ético?
- Em Manica, um jornalista e colunista do mesmo “Notícias” (eish, anima ser jornalista no Notícias!), até última notícia de que eu tenha conhecimento, é(ra) em simultâneo delegado provincial do SNJ enquanto “comia” um pouco da “mola” do erário (público) como adido de imprensa do Governo da província. Acho que já é redundante eu retornar àquela questão, mas, se perguntar não ofende, nem é crime...
- Em Inhambane, um jornalista e também colunista do mesmo “Notícias” (xi, outra vez!!!, acho que começo a ser um atentado ao nosso grande diário!) desempenhou até há uns tempos a função de adido de imprensa do Governo da província. Ainda é preciso perguntar, de novo!?
Para terminar, um caso à parte: o irreverente e dissidente jornal Zambeze acusou em Editorial, há uns meses, o Director Editorial do semanário Domingo e agora representante das Empresas Jornalísticas no CSCS e novo Administrador-Delegado da Sociedade do Notícias de “receber algum” por assessorar o Conselho de Administração das Linhas Aéreas de Moçambique. O Zambeze não chegou a apresentar provas, fê-lo em sede de coluna de opinião, mas, ao que me parece, não foi desmentido publicamente nem processado judicialmente. O que levanta suspeições, o que não é nada bom para a reputação de uma figura respeitada no jornalismo moçambicano, cuja integridade até hoje não sofreu máculas nenhumas, por quem tenho particular apreço e aprendi a admirar desde os tempos que minha mãe oficiou no Notícias e eu reverenciava aquela casa (que até hoje considero, sem catolicismos nenhuns, “a catedral do Jornalismo Moçambicano”).
Depois deste meu arrolar de casos (infelizmente, acredito haver mais!), que considero inescreverem-se no âmbito de uma prática de promiscuidade nada abonatória e pouco salutar ao exercício da liberdade de imprensa, à profissão de fé na imparcialidade, na isenção e na independência, lanço aqui o desafio ao SNJ, ao MISA, ao CSCS e aos colegas para debaterem a questão da Legalidade e da Ética no Jornalismo não como quem “discute o sexo dos anjos”... pois o “Cavalo de Tróia” dessas práticas promíscuas está a invadir o nosso jornalismo.
Não vou cometer a ousadia de acusar o MISA, o CSCS e o SNJ de pactuarem com essa promiscuidade, pois não tenho provas de que façam vista grossa àquele funcionalismo dúplice de figuras a estes organismos ligadas. O Objectivo desta postagem é tão só discutir essa duplicidade e incompatibilidade de papéis que cada vez mais crescente número de jornalistas desempenha. Esta postagem quer-se apenas mais uma contribuição ao debate do Legal e do Ético, por um jovem jornalista (na reserva) para jornalistas, patrícios e camaradas de ofício.
P.S.1: Tenho saudades de Leite de Vasconcelos, por isso vou voltar a ler, pela enésima vez, o seu “Pela Boca Morre o Peixe”.
P.S.2: Para quem queira entender dos efeitos nefastos dos “agentes duplos”, recomendo a leitura da obra “Agente Zigzag”, de Ben McIntyre, que fala da improvável estório do “duplo agente” e provavelmente “triplo agente” Eddie Chapman, que qual espião que veio do glacial leva a vida no arame brincando com os serviços secretos britânico e alemão no tempo da Segunda Guerra Mundial.
“Toda a sociedade que não é esclarecida por filósofos é enganada por charlatães” (Condorcet)
1. Estava à procura desta oportunidade! Eu, Milton Cesário Banze Machel, me confesso, nestas coisas sou um oportunista, um verdadeiro “mahupeiro” da estirpe de “Totó” Schillaci nas peladinhas do “xipawana” e do “gulamussene”! Por isso, venham comigo neste “tour de force” ao meu estado de inquietude, quando o assunto é jornalismo moçambicano: essa minha eterna amada, qual “aquela cativa que me tem cativo” de Camões, esse meu mal-me-quer, bem-me quer...
Comemora-se sábado, 11 de Abril, mais um Dia do Jornalista Moçambicano, como entrada assim para mais um mês e meio dedicado à Liberdade (esse valor-supra sumo à existência do homem, como ser social e animal político). Por ocasião disso, o Conselho Superior da Comunicação Social (CSCS) e o Sindicato Nacional dos Jornalistas (SNJ) decidiram promover um debate subordinado ao tema “O Desenvolvimento da Comunicação Social em Moçambique: Aspectos Legais e Éticos”.
Diria o meu bom escriba amigo, eterno camarada de ofício (o destino dos poetas são as palavras...) e escrevedor de destinos, Nelson Saúte – a quem roubei esse vício/pretensão de ser enfático e peremptório –, “É salutar!”, esta iniciativa do CSCS e do SNJ.
Saudável - acrescentaria o meu professor bloguista da cadeira de Dúvida Metódica: Elísio Macamo - pelo facto de termos de ser uma sociedade de debate. Louvável, diria eu, neste País que cultiva os Feriados, as Tolerâncias de Ponto e as Efemérides como “momentos de reflexão” qual sociedade de filósofos (diz Karl Popper, o homem da Sociedade Aberta, que todos os homens são filósofos...uns mais do que os outros, acrescentariam os que se querem “exclusivisar” no Clube dos Filósofos, reservando-lhe o direito de admissão).
Oportunista como gosto de ser, aproveito este ensejo do debate promovido por aqueles organismos tutelares dos media e da profissão de jornalista para os provocar e a toda a sociedade moçambicana alcançável via blogosfera sobre dois pontos que balizam o tema do debate de sexta-feira, 11 de Abril de 2009: o Legal e o Ético.
2. O recém-despoletado “Caso Muananthata” serve de mote para as questões que a seguir levanto e que, a meu ver, são de certo modo reveladoras do Estado dos Media (pois, para mim, quem faz o Estado, as instituições e as organizações é o homem que neles desempenha papéis e funções, se eu fosse Nicolau de Copérnico ou Galilei Galileu enunciaria a Teoria Homocêntrica, que o Homem é o Centro do Universo, e que tudo gira à volta dele, mesmo que os teo-fundamentalistas de hoje me condenassem à fogueira!).
Para quem não sabe, o “Caso Muananthata” foi assim baptizado porque há umas semanas o Governador da Província de Tete, Ildefonso Muananthata, foi acusado pelo jornalista do “Notícias” Bernardo Carlos de o ter, alegadamente (ou supostamente?, como gostam os jornalistas de escrever), ameaçado de morte: a polémica é que o Governador estaria desgostoso com os escritos “rebeldes” (palavra minha) daquele jornalista do matutino dito oficioso, e que por via disso teria dito que ele corria risco de acabar como a legenda do Jornalismo (de Investigação) Moçambicano Carlos Cardoso, pois Bernardo Carlos poderia “perder esse cotovelo com que me acotovelas”.
Depois do “j’accuse” de Bernardo Carlos e supostamente o testemunho de quatro colegas de profissão que presenciaram a cena, e com a consequente mediatização do caso (não era para menos!, poderá tratar-se de um atentado à liberdade de expressão e uma ameaça à vida do Bernardo Carlos, se provada em sede própria) tudo virou do avesso.
Do “j’accuse” de Bernardo Carlos passou-se para uma autêntica sessão de “jaccuzi”: três dos colegas (por sinal dois em órgãos públicos, TVM e RM) desmentiram ter testemunhado em favor de Bernardo Carlos e de subscreverem os termos da acusação, enquanto um (do Diário de Moçambique) fincava pé que sim, é(ra) verdade o que acontecera e tal como se descreve que aconteceu.
O caso não ganharia contornos suspiciosos e não me levaria a colocá-lo no “cesto da promiscuidade” se a figura responsável pela sua clarificação ou resolução não desempenhasse os duplos papéis que a media lhe atribui: delegada provincial da secção moçambicana do MISA e adida de imprensa do Governo Provincial de Tete. Como disse!? Delegada do Media Institute for Southern Africa/Instituto de Comunicação Social para a África Austral e em simultâneo adida de imprensa do Governo de Tete!
Aí é! Qual a fronteira, na actuação que ela teve neste caso e no desempenho da sua função no MISA, entre o defender os interesses do jornalista e da liberdade de imprensa vs defender interesses de quem lhe paga o salário como assessora para a ligação com os media? Onde está o Legal da questão? Onde está o Ético da questão?
3. Porém, para demonstrar que não se trata de um caso isolado nos nossos media, chamo à vossa atenção estes casos que para mim entram no “catálogo da promiscuidade” e são auto-ameaças ao exercício da liberdade de imprensa, à independência, à imparcialidade, à isenção (espero que o adido de imprensa do Ministério do Trabalho e às vezes jornalista do semanário desportivo Desafio, Jafar Buana, não venha brandir que está aqui mais um caso que prova que a blogosfera moçambicana é espaço para se acusar pessoas e lesar honras e reputações).
- O até há pouco tempo representante das Empresas Jornalísticas (entenda-se sindicato dos patrões da media privada no CSCS), para além de ser jornalista em pleno direito no seu O Popular Fim-de-Semana, é(ra) assessor de imprensa da empresa que brilha “amareladamente” no “Big Five” do índice das 100 Maiores Empresas de Moçambique da firma de consultoria e auditoria KPMG. Pergunto pela segunda vez: Onde está o Legal da questão? Onde está o Ético da questão?
- Enquanto durou o mandato de David Simango como Ministro da Juventude e Desportos (MJD), até ele assumir a Presidência do Município de Maputo, o assessor de imprensa do Ministério da JD era um redactor (jornalista) desportivo do matutino “Notícias” – curiosamente, ele é meu ex-chefe de redacção no saudoso e extinto jornal “Campeão”. Coincidentemente, ele foi substituir outro jornalista do mesmo jornal que assessorava o bonacheirão Joel Libombo nos últimos anos do seu mandato de MJD. Repito a questão: Onde está o Legal? Onde está o Ético?
- Em Manica, um jornalista e colunista do mesmo “Notícias” (eish, anima ser jornalista no Notícias!), até última notícia de que eu tenha conhecimento, é(ra) em simultâneo delegado provincial do SNJ enquanto “comia” um pouco da “mola” do erário (público) como adido de imprensa do Governo da província. Acho que já é redundante eu retornar àquela questão, mas, se perguntar não ofende, nem é crime...
- Em Inhambane, um jornalista e também colunista do mesmo “Notícias” (xi, outra vez!!!, acho que começo a ser um atentado ao nosso grande diário!) desempenhou até há uns tempos a função de adido de imprensa do Governo da província. Ainda é preciso perguntar, de novo!?
Para terminar, um caso à parte: o irreverente e dissidente jornal Zambeze acusou em Editorial, há uns meses, o Director Editorial do semanário Domingo e agora representante das Empresas Jornalísticas no CSCS e novo Administrador-Delegado da Sociedade do Notícias de “receber algum” por assessorar o Conselho de Administração das Linhas Aéreas de Moçambique. O Zambeze não chegou a apresentar provas, fê-lo em sede de coluna de opinião, mas, ao que me parece, não foi desmentido publicamente nem processado judicialmente. O que levanta suspeições, o que não é nada bom para a reputação de uma figura respeitada no jornalismo moçambicano, cuja integridade até hoje não sofreu máculas nenhumas, por quem tenho particular apreço e aprendi a admirar desde os tempos que minha mãe oficiou no Notícias e eu reverenciava aquela casa (que até hoje considero, sem catolicismos nenhuns, “a catedral do Jornalismo Moçambicano”).
Depois deste meu arrolar de casos (infelizmente, acredito haver mais!), que considero inescreverem-se no âmbito de uma prática de promiscuidade nada abonatória e pouco salutar ao exercício da liberdade de imprensa, à profissão de fé na imparcialidade, na isenção e na independência, lanço aqui o desafio ao SNJ, ao MISA, ao CSCS e aos colegas para debaterem a questão da Legalidade e da Ética no Jornalismo não como quem “discute o sexo dos anjos”... pois o “Cavalo de Tróia” dessas práticas promíscuas está a invadir o nosso jornalismo.
Não vou cometer a ousadia de acusar o MISA, o CSCS e o SNJ de pactuarem com essa promiscuidade, pois não tenho provas de que façam vista grossa àquele funcionalismo dúplice de figuras a estes organismos ligadas. O Objectivo desta postagem é tão só discutir essa duplicidade e incompatibilidade de papéis que cada vez mais crescente número de jornalistas desempenha. Esta postagem quer-se apenas mais uma contribuição ao debate do Legal e do Ético, por um jovem jornalista (na reserva) para jornalistas, patrícios e camaradas de ofício.
P.S.1: Tenho saudades de Leite de Vasconcelos, por isso vou voltar a ler, pela enésima vez, o seu “Pela Boca Morre o Peixe”.
P.S.2: Para quem queira entender dos efeitos nefastos dos “agentes duplos”, recomendo a leitura da obra “Agente Zigzag”, de Ben McIntyre, que fala da improvável estório do “duplo agente” e provavelmente “triplo agente” Eddie Chapman, que qual espião que veio do glacial leva a vida no arame brincando com os serviços secretos britânico e alemão no tempo da Segunda Guerra Mundial.
Etiquetas:
deontologia,
duplicidade,
ética,
moral,
promiscuidade
segunda-feira, 9 de março de 2009
Há mais jornais, mas há pluralismo?
1. Uma das jubiladas conquistas da Democracia à Moçambicana é o exercício constitucionalizado e institucionalizado da liberdade de imprensa e a decorrente livre iniciativa privada, tendo como exemplo paradigmático a sanha cogumélica de surgimento de jornais, quer na vertente electrónica (os faxes ou de circulação por email) como nos semanários tablóides (no formato, se bem que alguns se confundam de facto com os famosos, quero dizer, famigerados junkie tabloid britânicos... sensacionalistas).
Hoje por hoje, em semanários (meu campo preferido dos media) temos uma fauna com “animais” como Savana (com a melhor equipa de opinião do País), Domingo (cultor das melhores grandes reportagens, palmilhando e calcorreando o País real), Zambeze (o mais irreverente, amiúde dissidente), Magazine Independente (nome peregrino este para um jornal semanário!, mas que vale pelo melhor editorialista do País), Escorpião, Público, Wamphula (em Nampula) e o saudável @ Verdade (mais adiante vou justificar por quê deste adjectivo).
2. Este post teve três momentos fundadores. O primeiro foi o desafio que o meu professor de Relações Públicas, Dilip Navalshankar, fez a mim e meus colegas do bacharelato em Ciências da Comunicação n'A Politécnica: que cada um escrevesse seu Memorial Crítico, o qual não só descrevesse o itinerário por cada um trilhado no campo da comunicação social mas que constituisse uma bússola de orientação de futuros temas para trabalhos de fim de curso. Lá fui ao meu pocket PC buscar algumas notas que venho tomando ao longo dos anos, tendo elencado alguns temas, um dos quais a epígrafe - como proposta de pesquisa.
O segundo momento foi quando, ao recomendar por SMS a alguns amigos que lessem o Editorial desta semana do Savana sobre a Guiné-Bissau (disse-lhes, enfático e peremptório como gosto de ser, “é uma lição de história!”), o Ericino de Salema assentiu, tendo contudo aproveitado a deixa para desabafar que a qualidade do jornalismo estava a baixar cada vez mais, reclamando que os assuntos são os mesmos, as abordagens as mesmas, idem as “análises” (direitos de autor: as aspas são dele).
O terceiro “momento a-haa” para esta postagem foi quando conversava com um amigo meu que tem o dobro da minha idade, cuja casa de pasto recebe todas as semanas uns tantos dos 50 mil exemplares que o único jornal gratuíto do País e com melhor qualidade (cor e papel) de impressão distribui semanalmente.
Discorriamos, pois, sobre o mérito do @ Verdade versus demérito do grosso dos semanários: pela pretensão de serem jornais de referência, tratando de hard news, todos eles praticamente versam sobre as mesmas matérias, consultam as mesmas fontes, têm as mesmas abordagens (de formato, extensão das estórias, no conteúdo e pelos ângulos aplicados) e andam todos seguidistas e cegos atrás de fait divers da corrupção e burocratismo no sector público, das polémicas dos casos quentes e males da nossa Justiça e da política politiqueira da FRELIMO e seus sibindizes acólitos da oposição construtiva, atrelados às dhlakamices e mazanguices...; em contrapartida, o @ Verdade propõe-se trazer um outro lado de Moçambique, uma visão positiv(ist)a das coisas boas e mesmo más da nossa terra, de contar apaixonantes human interest stories que retratem os desafios de desenvolvimento, de resgatar estórias must read do nosso quotidiano, estimulando o debate saudável de assuntos candentes ao jeito de soft news, de leituras de fim-de-semana. Uma forma, diriam os americanos, de dissimular ser silly tratando de serious issues. Prova disso, a ultima edição do jornal do Erik Charas traz uma estória – “biografia (positiva) de mel” - de uma jovem heroína na luta contra o SIDA, contra o estigma e a descriminação - leiam, felizmente este jornal arrancou logo com edição online em simultâneo com a impressa.
3. São estas untold estórias da vida real, estas abordagens frescas e resgatadoras do Jornalismo Narrativo, que junto com o Jornalismo Investigativo (que persegue e constrói dossiers e folhetins, que permite fazer hiperligações e desvenda conexões, que aprofunda e problematiza, e que proporciona exclusivos/scoops) marcam a diferença e nos fazem acreditar no valor da pluralidade e da diversidade e na nobre função do jornalismo como construção social da realidade, não deformação daltónica, miopista e conspiracionista da verdade, quando não falsificação do real.
Tudo isto, embora para muitos pareça implícito, senão explícito qual é a minha opinião (que carece de um trabalho de pesquisa e análise para que tenha selo de certa verdade), leva-me a questão inicial: há mais jornais, mas há pluralismo em Moçambique?
Ou, por outra: o que significa pluralismo no âmbito da liberdade de imprensa? É termos muitas vozes fazendo-se ouvir e múltiplos personagens dando a cara pensando a mesma coisa e dando a mesma opiniao sobre assuntos dominantes, todos reportando as mesmas coisas e da mesma forma como se de uma unanimidade nacional se tratasse? Pluralismo nos media é uma questão numérica (the more the merrier), ou tem que ver com diversidade de abordagens, de temas, tantas quantas sejam as vozes e caras com espaço aberto para debruçar-se sobre?
Ou por uma outra: dão todos esses jornais semanários da praça mediática nacional maputocêntrica, voice to the voiceless?
PS: aos camaradas de ofício, amantes dos media e do jornalismo vai uma sugestão de leitura e de cinema: o livro Toda a Verdade, de Morris West, sobre o jornalismo de investigação e os condicionalismos éticos e a pretensão de se querer dizer toda a verdade; e o filme Boa noite, e Boa Sorte, de George Clooney, sobre o jornalismo de intervenção na América do McCarthysmo.
Hoje por hoje, em semanários (meu campo preferido dos media) temos uma fauna com “animais” como Savana (com a melhor equipa de opinião do País), Domingo (cultor das melhores grandes reportagens, palmilhando e calcorreando o País real), Zambeze (o mais irreverente, amiúde dissidente), Magazine Independente (nome peregrino este para um jornal semanário!, mas que vale pelo melhor editorialista do País), Escorpião, Público, Wamphula (em Nampula) e o saudável @ Verdade (mais adiante vou justificar por quê deste adjectivo).
2. Este post teve três momentos fundadores. O primeiro foi o desafio que o meu professor de Relações Públicas, Dilip Navalshankar, fez a mim e meus colegas do bacharelato em Ciências da Comunicação n'A Politécnica: que cada um escrevesse seu Memorial Crítico, o qual não só descrevesse o itinerário por cada um trilhado no campo da comunicação social mas que constituisse uma bússola de orientação de futuros temas para trabalhos de fim de curso. Lá fui ao meu pocket PC buscar algumas notas que venho tomando ao longo dos anos, tendo elencado alguns temas, um dos quais a epígrafe - como proposta de pesquisa.
O segundo momento foi quando, ao recomendar por SMS a alguns amigos que lessem o Editorial desta semana do Savana sobre a Guiné-Bissau (disse-lhes, enfático e peremptório como gosto de ser, “é uma lição de história!”), o Ericino de Salema assentiu, tendo contudo aproveitado a deixa para desabafar que a qualidade do jornalismo estava a baixar cada vez mais, reclamando que os assuntos são os mesmos, as abordagens as mesmas, idem as “análises” (direitos de autor: as aspas são dele).
O terceiro “momento a-haa” para esta postagem foi quando conversava com um amigo meu que tem o dobro da minha idade, cuja casa de pasto recebe todas as semanas uns tantos dos 50 mil exemplares que o único jornal gratuíto do País e com melhor qualidade (cor e papel) de impressão distribui semanalmente.
Discorriamos, pois, sobre o mérito do @ Verdade versus demérito do grosso dos semanários: pela pretensão de serem jornais de referência, tratando de hard news, todos eles praticamente versam sobre as mesmas matérias, consultam as mesmas fontes, têm as mesmas abordagens (de formato, extensão das estórias, no conteúdo e pelos ângulos aplicados) e andam todos seguidistas e cegos atrás de fait divers da corrupção e burocratismo no sector público, das polémicas dos casos quentes e males da nossa Justiça e da política politiqueira da FRELIMO e seus sibindizes acólitos da oposição construtiva, atrelados às dhlakamices e mazanguices...; em contrapartida, o @ Verdade propõe-se trazer um outro lado de Moçambique, uma visão positiv(ist)a das coisas boas e mesmo más da nossa terra, de contar apaixonantes human interest stories que retratem os desafios de desenvolvimento, de resgatar estórias must read do nosso quotidiano, estimulando o debate saudável de assuntos candentes ao jeito de soft news, de leituras de fim-de-semana. Uma forma, diriam os americanos, de dissimular ser silly tratando de serious issues. Prova disso, a ultima edição do jornal do Erik Charas traz uma estória – “biografia (positiva) de mel” - de uma jovem heroína na luta contra o SIDA, contra o estigma e a descriminação - leiam, felizmente este jornal arrancou logo com edição online em simultâneo com a impressa.
3. São estas untold estórias da vida real, estas abordagens frescas e resgatadoras do Jornalismo Narrativo, que junto com o Jornalismo Investigativo (que persegue e constrói dossiers e folhetins, que permite fazer hiperligações e desvenda conexões, que aprofunda e problematiza, e que proporciona exclusivos/scoops) marcam a diferença e nos fazem acreditar no valor da pluralidade e da diversidade e na nobre função do jornalismo como construção social da realidade, não deformação daltónica, miopista e conspiracionista da verdade, quando não falsificação do real.
Tudo isto, embora para muitos pareça implícito, senão explícito qual é a minha opinião (que carece de um trabalho de pesquisa e análise para que tenha selo de certa verdade), leva-me a questão inicial: há mais jornais, mas há pluralismo em Moçambique?
Ou, por outra: o que significa pluralismo no âmbito da liberdade de imprensa? É termos muitas vozes fazendo-se ouvir e múltiplos personagens dando a cara pensando a mesma coisa e dando a mesma opiniao sobre assuntos dominantes, todos reportando as mesmas coisas e da mesma forma como se de uma unanimidade nacional se tratasse? Pluralismo nos media é uma questão numérica (the more the merrier), ou tem que ver com diversidade de abordagens, de temas, tantas quantas sejam as vozes e caras com espaço aberto para debruçar-se sobre?
Ou por uma outra: dão todos esses jornais semanários da praça mediática nacional maputocêntrica, voice to the voiceless?
PS: aos camaradas de ofício, amantes dos media e do jornalismo vai uma sugestão de leitura e de cinema: o livro Toda a Verdade, de Morris West, sobre o jornalismo de investigação e os condicionalismos éticos e a pretensão de se querer dizer toda a verdade; e o filme Boa noite, e Boa Sorte, de George Clooney, sobre o jornalismo de intervenção na América do McCarthysmo.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
O dilema dos jornalistas: confiar ou não nas fontes oficiosas
Fátima Mimbire, jornalista da AIM, repórter de fibra das poucas que admiro no jornalismo de imprensa - tal como Conceição Vitorino do Zambeze/Canal de Moçambique -, escreveu no Notícias de hoje um interessante texto de opinião que traz à tona o velho dilema dos jornalistas: dar crédito ou não às fontes oficiosas, aquelas que muitas vezes são responsáveis pelos melhores "scoop" ou "cachas", ou "breaking news" exclusivos na televisão em directo.
A trilogia da fuga de Anibalzinho foi responsável pela última sequela: Atanásio Marcos, pivot do Jornal da Noite da STV e editor de política d'O País conduziu um invulgar serviço noticioso alongado num destes dias, para tentar confirmar a informação da recaptura de Anibalzinho. Correu todos os riscos e confiou nas suas fontes. A AIM também noticiou. Os Repórteres Sem Fronteiras divulgaram para o mundo a mesma informação da recaptura de Anibalzinho. Dias depois, o Ministro do Interior veio dizer que se tratavam de rumores tendenciosos ou maliciosos, descredibilizando assim a "notícia" cujo emissor principal fora precisamente o seu por acaso afilhado de casamento.
Fátima Mimbire vem expôr o dilema que um eminente estudioso do fenómeno jornalismo já chamou de relação amor/ódio (entre jornalistas e fontes), e outro já considerou como uma dança esta negociação entre fontes e jornalistas.
O texto da Fátima Mimbire acrescenta um elemento hoje fulcral nas relações humanas, o telemóvel: através do bem-amado SMS, veículo poderoso de informação instantânea. Não admira que os jornalistas do Zambeze e do Magazine Independente coloquem na ficha técnica os seus números de celular privados como meios de contacto oficiais como quem diz: estou disponível 24 sobre 24 horas, a notícia é o "pão nosso de cada dia".
O texto de Fátima Mimbire faz-me lembrar a coluna, há uns anos, de Mia Couto no jornal domingo, O Queixatório. Este era um caso digno de estudo pelo Queixatório...só que não pelos leitores, mas pelos próprios jornalistas. Como já não há queixatório, rogo tal função, desta feita como Consultório de Media, à blogosfera.
Leiam o texto e venham daí as vossas sugestões: como lidar com as fontes?
A relação entre jornalistas e as fontes de informação
Por Fátima Mimbire, da AIM
DE há uns tempos para cá tem sido frequente que nós, jornalistas, e até o público em geral recebamos SMS´s dando conta de que acaba de acontecer isto ou aquilo no país ou no resto do mundo, como foi o caso da detenção do antigo Ministro do Interior, Almerinho Manhenje, que, neste caso, mexeu com o céu e a terra moçambicanos, talvez porque era a primeira vez que um antigo ministro era detido em pleno dia, acusado de corrupção.
Maputo, Quinta-Feira, 18 de Dezembro de 2008:: Notícias
Como é óbvio, para nós, jornalistas, sempre que nos chega este tipo de informações via SMS´s ou através doutra fonte qualquer não oficial, a nossa primeira reacção é procurar ouvir a quem de direito, para apurarmos se o que se diz é ou não verdade.
Foi, pois, via SMS que tomámos conhecimento, pela primeira vez, da detenção de Manhenje, Cambaza e de outros tantos grandes antigos dignitários do nosso Governo, que aparentemente se deixaram cair na tentação do dinheiro, tal como aconteceu com Judas, quando vendeu Cristo, e ter-ão-se apoderado do erário público.
Foi também por via SMS´s que soubemos, em primeira água no domingo dia 7 deste mês que o famigerado Anibalzinho tinha voltado a se escapulir ou a ser solto por aqueles que o deviam guarnecer na cela do Comando da Polícia em que se encontrava desde que fora recapturado quando já estava no Canadá.
Tem sido também através de SMS´s que temos tomado conhecimento primário de outras tantas ocorrências susceptíveis de se noticiar, como dos repetidos incêndios que amiúde têm devorado algumas das instituições públicas, e que para alguns são fogo para se destruir evidências das falcatruas que ao longo de anos foram sendo feitas, para que os seus autores não sejam também chamados a responder nos tribunais.
Há que vincar que de todas as vezes que recebemos este tipo de informações, o que muitos de nós têm feito é tentar confirmar junto das autoridades competentes ou de direito, ou tratamos de correr para o local onde as coisas estejam a acontecer, quando se trata de algo que podemos ver “in loco”, como é o caso de um incêndio.
Assim o fizemos quando nos chegou via SMS a informação de que Manhenje, Cambaza… tinham sido detidos, do mesmo modo que solicitámos a confirmação de que Anibalzinho tinha voltado a fugir na manhã do domingo dia 7. Há que destacar também que de todas as vezes que recebemos estas SMS´s, veio a se verificar que era verdade, se bem que havia alguns aspectos que precisavam de ser limados, como quando se dizia que Manhenje foi detido em plena aula perante o olhar impotente dos seus estudantes no ISRI onde dava aulas.
Curiosamente, esta fonte, digo SMS, voltou a nos dar, na noite da segunda-feira última, a surpreendente informação de que Anibalzinho havia sido, uma vez mais, recapturado quando se encontrava na zona da Namaacha, presumivelmente a caminho da Suazilândia ou África do Sul. Tal SMS havia sido enviada a vários outros jornalistas da AIM, RM, STV, só para citar alguns dos órgãos que há no nosso país, pelas mesmas fontes policiais que no passado lhes haviam, por assim dizer, chutado outras SMS´s que mais tarde viriam a se confirmar que estavam reportando factos verídicos noticiáveis, e não falsos como se diz agora deste caso da propalada recaptura do Anibalzinho.
Importa referir que os jornalistas que receberam essa mensagem, alguns deles, como eu pessoalmente, tudo fizemos naquela noite para tentar obter uma confirmação junto dos responsáveis da nossa Polícia que têm esse dever de (des)confirmar este tipo de informações do tipo diz-se, diz-se que…o Ministério da Agricultura está a arder, que fulano de tal foi preso, que fugiu ou que foi mesmo abatido.
Só que desta vez tais responsáveis optaram não só pelo mutismo tanto deles como dos seus porta-vozes, como não atenderam os seus telefones ou celulares, o que nos colocou numa situação de tensão e de não sabermos como desfazíamos esta SMS, se devíamos ou não assumir como verdadeira essa informação. O pior é que mesmo o tradicional “briefing” das terças-feiras às 10 horas não se realizou e não houve nenhuma explicação do porquê. Perante este mutismo, alguns de nós, como eu, optamos por recorrer a certas nossas fontes fidedignas que temos na corporação policial, e que muito embora não estejam oficialmente investidas desse poder de dar informação em primeira mão, ou pelo menos confirmar o que esteja a circular através das SMS´s, nos têm mesmo assim sido fontes credíveis e seguras, para através delas furarmos a cortina de ferro ou de silêncio das fontes autorizadas.
Foi o que eu fiz nessa noite de segunda-feira. O que me levou a tomar como verdadeira a informação de que Anibalzinho tinha sido uma vez mais recapturado é que me foi confirmada pela mesma fonte policial que há vários anos me vem confirmando outras ocorrências, como foi o caso da detenção de Manhenje, antes de ser oficialmente confirmada pelas fontes autorizadas. O que também me levou a assumir que desta vez devia ser verdadeira é que fiz também o que nós, jornalistas chamamos de cruzar fontes, consistindo em contactar colegas de outros órgãos de comunicação, para verificar se eles também têm a mesma informação das suas próprias fontes. Uma vez feito isso, soube que eles tinham de facto tido essa mesma informação de fontes que têm primado pela verdade e que nunca os desiludiu. Uma vez cruzadas as fontes, não vi outra razão que me detivesse de publicar a notícia.
Só que, estranhamente, desta vez afinal nos confirmaram uma informação falsa (?), o que pelo menos para muitos de nós o fizeram pela primeira vezdesde que começaram a nos passar informações já há vários anos!
Neste momento, alguns de nós temos estado a reflectir e a ponderar o que fazer agora no futuro: se devemos deixar já de contar com estas fontes não oficiais, para que não passemos a noticiar outras falsidades como o fizemos agora, para passarmos apenas a contar com as fontes autorizadas. Quanto a mim, acho que para evitar voltar a fazer uma notícia falsa como fiz agora, deveria nunca mais basear-me nessas fontes extra-oficiais. Só que me deparo com um problema que caso não seja resolvido - que é esse das fontes oficiais terem o hábito de não dar informação em tempo real ou de não darem mesmo nenhuma, optando por não atender os seus celulares, não vejo outra alternativa que não me basear nestas não oficiais, tanto mais que provaram que são muito eficientes, para além de que só falharam até aqui uma só vez, após vários anos de nos prestarem um alto serviço.
Creio que vale a pena continuar a contar com elas, se quisermos evitar que um dia o público seja atingido por um “tsunami” sem que tenha sido alertado antes. Digo isto porque se um dia as nossas costas forem atingidas por este tipo de calamidades, as SMS´s iriam nos alertar primeiro que as nossas fontes oficiais. Mesmo aquando das explosões do Paiol aqui em Maputo, quem nos alertou em primeiro lugar foram as SMS´s, e depois a Imprensa, e só muito mais tarde é que veio a informação oficial das fontes oficiais. Ora, esta lentidão em providenciar informação pode ser catastrófica em certas ocorrências do tipo “tsunami” ou terramoto.
O que prova que há lentidão na reacção oficial é que mesmo esta notícia sobre a tal recaptura do Anibalzinho levou mais de 24 horas para ser desmentida pelas fontes oficiais, o que julgamos que foi tempo demais para uma notícia desta envergadura. Na verdade, assim que as horas foram passando e não se ouvia nada dos responsáveis da Polícia, o público foi assumindo que a notícia era verdadeira. Muitos acreditaram porque se basearam no adágio que reza que quem cala consente.
Muitos perguntam-se agora o que se terá passado com os porta-vozes da Polícia, para as autoridades competentes terem visto na STV, por exemplo, e lido no dia 9 em vários jornais que Anibalzinho havia sido recapturado, e terem-se mantido mesmo assim caladas, quando sabiam que não era verdade, e só virem desmenti-la passados quase dois dias!?
Será isto normal? Claro que não. Isto é grave, porque se fosse uma notícia falsa que colocasse o público em pânico, como do tipo de que há um “tsunami” que está a aproximar-se da nossa costa, ou um devastador temporal do tipo “Katrina” que há cerca de dois anos devastou a cidade norte-americana de Nova Orleans, e forçou os seus habitantes a saírem em debandada, teríamos já muita gente morta, ou pelo menos que se teria sacrificado durante mais de 24 horas em vão, a tentar fugir ou mesmo saltar dos seus prédios, quando afinal não havia perigo nenhum. Pensamos que as autoridades do nosso país têm o dever não só de dar informação que seja útil aos cidadãos, como a devem dar em tempo real, sob pena de perderem a credibilidade do público que, neste caso, se assumem como estando ao seu serviço.
DE há uns tempos para cá tem sido frequente que nós, jornalistas, e até o público em geral recebamos SMS´s dando conta de que acaba de acontecer isto ou aquilo no país ou no resto do mundo, como foi o caso da detenção do antigo Ministro do Interior, Almerinho Manhenje, que, neste caso, mexeu com o céu e a terra moçambicanos, talvez porque era a primeira vez que um antigo ministro era detido em pleno dia, acusado de corrupção.
Maputo, Quinta-Feira, 18 de Dezembro de 2008:: Notícias
Como é óbvio, para nós, jornalistas, sempre que nos chega este tipo de informações via SMS´s ou através doutra fonte qualquer não oficial, a nossa primeira reacção é procurar ouvir a quem de direito, para apurarmos se o que se diz é ou não verdade.
Foi, pois, via SMS que tomámos conhecimento, pela primeira vez, da detenção de Manhenje, Cambaza e de outros tantos grandes antigos dignitários do nosso Governo, que aparentemente se deixaram cair na tentação do dinheiro, tal como aconteceu com Judas, quando vendeu Cristo, e ter-ão-se apoderado do erário público.
Foi também por via SMS´s que soubemos, em primeira água no domingo dia 7 deste mês que o famigerado Anibalzinho tinha voltado a se escapulir ou a ser solto por aqueles que o deviam guarnecer na cela do Comando da Polícia em que se encontrava desde que fora recapturado quando já estava no Canadá.
Tem sido também através de SMS´s que temos tomado conhecimento primário de outras tantas ocorrências susceptíveis de se noticiar, como dos repetidos incêndios que amiúde têm devorado algumas das instituições públicas, e que para alguns são fogo para se destruir evidências das falcatruas que ao longo de anos foram sendo feitas, para que os seus autores não sejam também chamados a responder nos tribunais.
Há que vincar que de todas as vezes que recebemos este tipo de informações, o que muitos de nós têm feito é tentar confirmar junto das autoridades competentes ou de direito, ou tratamos de correr para o local onde as coisas estejam a acontecer, quando se trata de algo que podemos ver “in loco”, como é o caso de um incêndio.
Assim o fizemos quando nos chegou via SMS a informação de que Manhenje, Cambaza… tinham sido detidos, do mesmo modo que solicitámos a confirmação de que Anibalzinho tinha voltado a fugir na manhã do domingo dia 7. Há que destacar também que de todas as vezes que recebemos estas SMS´s, veio a se verificar que era verdade, se bem que havia alguns aspectos que precisavam de ser limados, como quando se dizia que Manhenje foi detido em plena aula perante o olhar impotente dos seus estudantes no ISRI onde dava aulas.
Curiosamente, esta fonte, digo SMS, voltou a nos dar, na noite da segunda-feira última, a surpreendente informação de que Anibalzinho havia sido, uma vez mais, recapturado quando se encontrava na zona da Namaacha, presumivelmente a caminho da Suazilândia ou África do Sul. Tal SMS havia sido enviada a vários outros jornalistas da AIM, RM, STV, só para citar alguns dos órgãos que há no nosso país, pelas mesmas fontes policiais que no passado lhes haviam, por assim dizer, chutado outras SMS´s que mais tarde viriam a se confirmar que estavam reportando factos verídicos noticiáveis, e não falsos como se diz agora deste caso da propalada recaptura do Anibalzinho.
Importa referir que os jornalistas que receberam essa mensagem, alguns deles, como eu pessoalmente, tudo fizemos naquela noite para tentar obter uma confirmação junto dos responsáveis da nossa Polícia que têm esse dever de (des)confirmar este tipo de informações do tipo diz-se, diz-se que…o Ministério da Agricultura está a arder, que fulano de tal foi preso, que fugiu ou que foi mesmo abatido.
Só que desta vez tais responsáveis optaram não só pelo mutismo tanto deles como dos seus porta-vozes, como não atenderam os seus telefones ou celulares, o que nos colocou numa situação de tensão e de não sabermos como desfazíamos esta SMS, se devíamos ou não assumir como verdadeira essa informação. O pior é que mesmo o tradicional “briefing” das terças-feiras às 10 horas não se realizou e não houve nenhuma explicação do porquê. Perante este mutismo, alguns de nós, como eu, optamos por recorrer a certas nossas fontes fidedignas que temos na corporação policial, e que muito embora não estejam oficialmente investidas desse poder de dar informação em primeira mão, ou pelo menos confirmar o que esteja a circular através das SMS´s, nos têm mesmo assim sido fontes credíveis e seguras, para através delas furarmos a cortina de ferro ou de silêncio das fontes autorizadas.
Foi o que eu fiz nessa noite de segunda-feira. O que me levou a tomar como verdadeira a informação de que Anibalzinho tinha sido uma vez mais recapturado é que me foi confirmada pela mesma fonte policial que há vários anos me vem confirmando outras ocorrências, como foi o caso da detenção de Manhenje, antes de ser oficialmente confirmada pelas fontes autorizadas. O que também me levou a assumir que desta vez devia ser verdadeira é que fiz também o que nós, jornalistas chamamos de cruzar fontes, consistindo em contactar colegas de outros órgãos de comunicação, para verificar se eles também têm a mesma informação das suas próprias fontes. Uma vez feito isso, soube que eles tinham de facto tido essa mesma informação de fontes que têm primado pela verdade e que nunca os desiludiu. Uma vez cruzadas as fontes, não vi outra razão que me detivesse de publicar a notícia.
Só que, estranhamente, desta vez afinal nos confirmaram uma informação falsa (?), o que pelo menos para muitos de nós o fizeram pela primeira vezdesde que começaram a nos passar informações já há vários anos!
Neste momento, alguns de nós temos estado a reflectir e a ponderar o que fazer agora no futuro: se devemos deixar já de contar com estas fontes não oficiais, para que não passemos a noticiar outras falsidades como o fizemos agora, para passarmos apenas a contar com as fontes autorizadas. Quanto a mim, acho que para evitar voltar a fazer uma notícia falsa como fiz agora, deveria nunca mais basear-me nessas fontes extra-oficiais. Só que me deparo com um problema que caso não seja resolvido - que é esse das fontes oficiais terem o hábito de não dar informação em tempo real ou de não darem mesmo nenhuma, optando por não atender os seus celulares, não vejo outra alternativa que não me basear nestas não oficiais, tanto mais que provaram que são muito eficientes, para além de que só falharam até aqui uma só vez, após vários anos de nos prestarem um alto serviço.
Creio que vale a pena continuar a contar com elas, se quisermos evitar que um dia o público seja atingido por um “tsunami” sem que tenha sido alertado antes. Digo isto porque se um dia as nossas costas forem atingidas por este tipo de calamidades, as SMS´s iriam nos alertar primeiro que as nossas fontes oficiais. Mesmo aquando das explosões do Paiol aqui em Maputo, quem nos alertou em primeiro lugar foram as SMS´s, e depois a Imprensa, e só muito mais tarde é que veio a informação oficial das fontes oficiais. Ora, esta lentidão em providenciar informação pode ser catastrófica em certas ocorrências do tipo “tsunami” ou terramoto.
O que prova que há lentidão na reacção oficial é que mesmo esta notícia sobre a tal recaptura do Anibalzinho levou mais de 24 horas para ser desmentida pelas fontes oficiais, o que julgamos que foi tempo demais para uma notícia desta envergadura. Na verdade, assim que as horas foram passando e não se ouvia nada dos responsáveis da Polícia, o público foi assumindo que a notícia era verdadeira. Muitos acreditaram porque se basearam no adágio que reza que quem cala consente.
Muitos perguntam-se agora o que se terá passado com os porta-vozes da Polícia, para as autoridades competentes terem visto na STV, por exemplo, e lido no dia 9 em vários jornais que Anibalzinho havia sido recapturado, e terem-se mantido mesmo assim caladas, quando sabiam que não era verdade, e só virem desmenti-la passados quase dois dias!?
Será isto normal? Claro que não. Isto é grave, porque se fosse uma notícia falsa que colocasse o público em pânico, como do tipo de que há um “tsunami” que está a aproximar-se da nossa costa, ou um devastador temporal do tipo “Katrina” que há cerca de dois anos devastou a cidade norte-americana de Nova Orleans, e forçou os seus habitantes a saírem em debandada, teríamos já muita gente morta, ou pelo menos que se teria sacrificado durante mais de 24 horas em vão, a tentar fugir ou mesmo saltar dos seus prédios, quando afinal não havia perigo nenhum. Pensamos que as autoridades do nosso país têm o dever não só de dar informação que seja útil aos cidadãos, como a devem dar em tempo real, sob pena de perderem a credibilidade do público que, neste caso, se assumem como estando ao seu serviço.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
O Zambeze na linha da frente: jornalismo à americana em tempo de campanha
Camaradas (sem cartão vermelho!) da blogosfera, estou de volta! Não vou fazer promessas, nestes tempos de campanha no Moçambique autárquico. Regresso oportunisticamente à propósito deste momento eleitoral.
Para quem acompanha as eleições americanas, o processo todo desde às primárias, passando pela nomeação em convenções dos dois grandes partidos e pela campanha propriamente dita...até o dia da eleição, não lhe escapará que este é um momento para a media brilhar com o seu jornalismo de escândalos.
Os escândalos dos candidatos são servidos para o público qual "buffet". Faz-se um escrutínio até ao pormenor mais mesquinho, qual "voyeurismo jornalístico" em nome da transparência e do Accountability. Eu, consumadamente homem de media, confesso que não resisto expectante pela próxima grande revelação sobre a vida dos candidatos, na América do Azul e Vermelho.
Descendo ao nosso chão eleitoral, esta semana, o Zambeze - o jornal que não se acobarda por nada, temerário - vem à capa com um potencial escândalo do candidato da FRELIMO ao Município da Beira: Lourenço Ferreira Bulha. Na dianteira, desse jornalismo à americana que procura "fussar" a vida dos candidatos. Estou na expectativa de ver, quer a media dita oficiosa (quero dizer pública), quer a chamada independente, se farão o "follow-up" deste assunto. Se será tema de campanha? (O que determina a agenda dos media, neste tempo de campanha eleitoral? Seguidismo puro da maratona das promessas e súplicas dos candidatos, na caça ao voto? Diz-se que os candidatos não apresentam o seu manifesto eleitoral...caberá a nós jornalistas perguntar no abstracto: qual é o seu manifesto eleitoral? Ou caber-nos-à perguntar aos académicos conhecedores de políticas públicas e aos planificadores das mesmas, que questões concretas devemos colocar aos candidatos?)
Para quem acompanha as eleições americanas, o processo todo desde às primárias, passando pela nomeação em convenções dos dois grandes partidos e pela campanha propriamente dita...até o dia da eleição, não lhe escapará que este é um momento para a media brilhar com o seu jornalismo de escândalos.
Os escândalos dos candidatos são servidos para o público qual "buffet". Faz-se um escrutínio até ao pormenor mais mesquinho, qual "voyeurismo jornalístico" em nome da transparência e do Accountability. Eu, consumadamente homem de media, confesso que não resisto expectante pela próxima grande revelação sobre a vida dos candidatos, na América do Azul e Vermelho.
Descendo ao nosso chão eleitoral, esta semana, o Zambeze - o jornal que não se acobarda por nada, temerário - vem à capa com um potencial escândalo do candidato da FRELIMO ao Município da Beira: Lourenço Ferreira Bulha. Na dianteira, desse jornalismo à americana que procura "fussar" a vida dos candidatos. Estou na expectativa de ver, quer a media dita oficiosa (quero dizer pública), quer a chamada independente, se farão o "follow-up" deste assunto. Se será tema de campanha? (O que determina a agenda dos media, neste tempo de campanha eleitoral? Seguidismo puro da maratona das promessas e súplicas dos candidatos, na caça ao voto? Diz-se que os candidatos não apresentam o seu manifesto eleitoral...caberá a nós jornalistas perguntar no abstracto: qual é o seu manifesto eleitoral? Ou caber-nos-à perguntar aos académicos conhecedores de políticas públicas e aos planificadores das mesmas, que questões concretas devemos colocar aos candidatos?)
Gostaria de perceber dos bloggers se é um tema pertinente este, em tempo de campanha, sendo Bulha um potencial servidor da coisa pública. Estou expectante em ver se algum jornalista há-de, pelo menos, colocar o microfone e perguntar retoricamente "engraxante": Lourenço Bulha, quer comentar a matéria do Zambeze?
Que Bulha!
Adiante a matéria:
Comprovam documentos oficiais em poder do ZAMBEZE
Candidato da Frelimo a Edil da Beira envolvido em negócio ilegal de terra
• Lourenço Bulha e sua mulher Eucelia Sacramento Monteiro Bulha implicados em venda de terra urbana, a troco de dívida, à seguradora IMPAR, agora SIM do Millennium-bim, por 350 milhões de meticais
Beira (Canal de Moçambique) - A terra é propriedade do Estado e não deve ser vendida ou por qualquer outra forma alienada, nem hipotecada ou penhorada. É isso que determinada a Constituição da República de Moçambique no seu artigo 109. Mas é frequente ouvirmos histórias que a serem verdadeiras seriam a prova de que este preceito constitucional terá sido imensas vezes violado. Até aqui, pelo menos nós, não conhecíamos qualquer caso em que se pudesse provar que até mesmo agentes em funções em organismos tutelados pelo Estado, no que à Terra diz respeito, incorrem em violações à Constituição da República de Moçambique. Contudo, agora, pela primeira vez conhece-se um caso concreto, passado na Beira, que envolve duas pessoas que na altura exerciam cargos de elevada responsabilidade na própria autarquia e praticaram e/ou permitiram acto de flagrante violação da Constituição envolvendo uma companhia de seguros privada, a IMPAR, agora designada por SIM, em processo de venda de título de uso e aproveitamento de terra por 350 milhões de meticais . Como o comprovam provas documentais em nosso poder, trata-se de um caso que implica em negócio de compra e venda de terra o então presidente da Assembleia Municipal da Beira e actual candidato pelo partido Frelimo ao cargo de presidente do Conselho Municipal, Lourenço Bulha, e envolve ainda a IMPAR – Companhia de Seguros de Moçambique, hoje designada por SIM, pertencente ao grupo Millennium-Bim. Aliás é um caso que teve o aval do então Edil da Beira Chivavice Muchangage e mesmo até do Ministério da Justiça através da Conservatória do Registo Predial da Beira como não deixa dúvidas uma certidão emitida a 1 de Abril do corrente ano e em que vem explicito que a IMPAR “adquiriu por compra” o terreno a Lourenço Bulha e esposa. O caso está consumado e para contar esta história bastou-nos reunir documentos. Está tudo escrito e oficializado. E não há dúvidas de que o negócio é o primeiro de que se conhece prova de venda ilícita de terra em Moçambique. A questão começa com a concessão do terreno feita a Lourenço Ferreira Bulha, a 14 de Dezembro de 1998, pelo presidente do Conselho Municipal da Beira de então, Chivavice Muchangage. Trata-se de uma parcela na baixa da cidade, ao lado do Cinema Nacional, em frente da Livraria Clássica, uma empresa também alienada pelo Estado ao mesmo cidadão, Lourenço Bula. Reza o título emitido sem que houvesse pelo menos um terço de benfeitorias concluídas como recomenda a legislação, que “por tempo indeterminado” e livre de qualquer taxa – “sem nenhuma taxa anual”, como se lê no documento que estamos a citar, Lourenço Bulha é titular da autorização de uso e aproveitamento da terra de 2.535,663 metros quadrados . Trata-se de uma parcela que é contornada pela Rua António Enes, Avenida D. Diniz, R. da Cruz Vermelha e pela Rua Costa Serrão, talhão 64-A. Na Conservatória do Registo Predial conta que em 1999, a 11 de Fevereiro com o nr. de inscrição 10229, a folhas 178 do Livro F-10, foi registado a favor de Lourenço Ferreira Bulha, casado em regime de comunhão de bens adquiridos com Eucelia Sacramento Monteiro Bulha , residentes no Terceiro Bairro Ponta Gêa, foi registado o direito de uso e aproveitamento de terra, do prédio (NR. Designa-se juridicamente por prédio o terreno mesmo sem edificações) descrito sob o nr. 9954, a flhs 127, do Livro B-29, constante deste título. Já segundo o documento em nosso poder, da mesma conservatória, e sem que haja no terreno qualquer edifício construído, sendo até hoje um terreno baldio, o mesmo terreno aparece registado em nome da seguradora «IMPAR – Companhia de Seguros de Moçambique, SARL», agora SIM, do Grupo Millennium-bim. O Registo tem a data de 11 de Novembro de 2003 e está inscrito sob o n.º 16364, a folhas 118, do Livro D-18. Pouco tempo dias depois houve eleições em que venceu a Renamo e Daviz Mbepo Simango passou a ser o Edil da Beira. Lourenço Bulha, é candidato pela Frelimo a edil da Beira nas eleições da próxima quarta-feira. Daviz Simango é o actual edil e candidata-se como independente mediante proposta do Grupo de Reflexão e Mudança, liderado pelo ex-governador de Sofala Francisco Masquil.
E que prova há de que houve venda de terra? Mas que prova é esta de que Lourenço Bulha se envolveu em negócio ilícito de terras? Eis a questão que colocamos a nós próprios. Rapidamente nos chegou a resposta. O Grupo VIP é hoje o titular do DUAT, isto é do Direito ao Uso e Aproveitamento da Terra. Tendo expirado o prazo de aproveitamento que tinha Lourenço Bulha, o município concedeu o espaço a outro, mais precisamente ao Grupo VIP. Mas acontece que Lourenço Bulha não podia vender a terra porque não a aproveitou isto é por não haver feito no terreno pelo menos um terço do que prometera fazer aquando do pedido de concessão interposto no Conselho Municipal da Beira. Perdeu a concessão. Esteve mais de cinco anos com o terreno e nada construiu. Mas a seguradora IMPAR agora SIM diz-se proprietária do terreno. E porquê? Porque Lourenço Ferreira Bulha o vendeu para pagar uma dívida à seguradora.Vendeu, aliás, o título de uso e aproveitamento o que é manifestamente ilegal apesar da operação de compra e venda ter tido cobertura do próprio Ministério da Justiça. Uma cópia do contrato com o título contracto promessa de compra e venda entre Lourenço Ferreira Bulha e a IMPAR reza que o referido terreno foi valorizado em 350 milhões de meticais da velha família e serviu para pagar uma dívida de 257.435.008,00 MT. Na altura ainda vigorava a velha família do metical. Hoje serão 257.435,00 MTn. No contracto assinado a 23 de Junho de 1999 lê-se (sic): “É celebrado o presente contrato-promessa de transferência de uso e aproveitamento…”. E isto é que é manifestamente ilegal e conforma um crime dado ser uma operação não permitida pela Constituição da República e por lei. Só é permitido vender benfeitorias, não títulos de uso e aproveitamento de terra como foi o negócio, de acordo com o que vem expresso no contrato de compra e venda estabelecido entre Bulha e a seguradora. Lê-se ainda no contrato de compra e venda que a IMPAR “é credora” de Lourenço Bulha, por falta de pagamento de “vários prémios de seguro em dívida” no montante de 257.435,00 MT e que Lourenço Bulha “é titular do direito de uso e aproveitamento do talhão 64-A, sito na cidade da Beira e descrito sob o n.º 9954, a fls 127 do Libro B-29, cuja área é de 2.535,63 m2”. Consta também do contracto assinado por Bulha e pela IMPAR, agora SIM, em 23 de Junho de 1999, que Lourenço Bulha pelo presente contrato-promessa…compromete-se a transferir o título de uso e aproveitamento para a seguradora e esta a pagar-lhe a diferença entre o valor da dívida (257.435,00 MTn)e o valor por que foi avaliado o terreno (350.00,00 MTn). Dessa forma acabaram a seguradora e Lourenço Bulha por se envolverem numa negociação com todos os contornos de ilegalidade. A forma como este assunto vai ser tratado pelas autoridades poderá abrir no entanto caminho para que outros cidadãos até aqui impedidos de fazer o mesmo saibam com que linhas se podem passar a coser. Veremos qual será o comportamento da Procuradoria da República na Província de Sofala, com sede na cidade da Beira. (Fernando Veloso)
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Entrevistas Com História
Chamava-se Oriana Fallaci. Era uma grande jornalista, mestre do género mais fácil de se executar (porque se ser jornalista é perguntar, então qualquer um pode sê-lo, basta apenas ter coragem de...perguntar) pelos jornalistas e paradoxalmente o mais difícil de dominar pelos jornalistas (porque perguntar, jornalisticamente, é questionar, é problematizar, é contra-argumentar sem opinar).
Os meus camaradas de ofício, Nelson Saúte, Ericino de Salema e Policarpo Mapengo adoram citá-la, como o paradigma do bom entrevistar. Uma das mais famosas obras de Fallaci foi precisamente “Entrevistas Com a História”. Fiz esta menção-homenagem a Fallaci a modos de saudar o regresso da Grande Entrevista aos media nacionaisk, mormente STV/O País e Jornal SAVANA. E, curiosamente, parece que todas elas com um propósito quase que combinado, articulado: entrevistar figuras-chave na história do País para trazer à esfera pública o debate da nossa história.
São, pois, “entrevistas com a história”, aquelas que nos últimos três meses vimos desfilar no SAVANA, na STV e no País, com Jorge Rebelo, Jacinto Veloso, Graça Machel e agora Sérgio Vieira. Faltam-me, parece, nesse círculo de entrevistas figuras como o recém-homenageado “causídico primeiro” Domingos Arouca (como fonte alternativa e capaz de desfrelimizar a nossa visão da nossa história), Malangatana Valente Ngwenya, Lina Magaia. Espero, sinceramente que venham desfilar mais figuras desse porte na nossa história, e sobretudo os media nos ofereçam fontes alternativas.
Do cruzamento dessas fontes, das leituras nas entrelinhas do que eles (não) dizem, quem sabe construiremos o desígnio a que convidou-nos Severino Ngoenha: “Por Uma Dimensão Moçambicana da Consciência Histórica”.
Só com Consciência Histórica podemos almejar e empreender o Desenvolvimento. E Só com História – inabalável, factível, desfrelimizada - podemos ter Consciência Histórica, Causa Comum (a luta pelo Bem Comum) e só assim o Projecto Nação se realiza...
Caso contrário, continuaremos a ser uma sociedade em que somos Predadores de Nós Próprios, Estrangeiros de Nós Próprios, em que o individualismo arrivista e autofágico, qual corrida ao capital, impedirá que grandes propósitos como o ditoso Combate à Pobreza.
Eis que me regozijo pelo meu tão almejado papel dos media na (re)construção da nossa história. Espero que seja uma Agenda Consensual dos Media, em nome do Interesse Nacional.
Os meus camaradas de ofício, Nelson Saúte, Ericino de Salema e Policarpo Mapengo adoram citá-la, como o paradigma do bom entrevistar. Uma das mais famosas obras de Fallaci foi precisamente “Entrevistas Com a História”. Fiz esta menção-homenagem a Fallaci a modos de saudar o regresso da Grande Entrevista aos media nacionaisk, mormente STV/O País e Jornal SAVANA. E, curiosamente, parece que todas elas com um propósito quase que combinado, articulado: entrevistar figuras-chave na história do País para trazer à esfera pública o debate da nossa história.
São, pois, “entrevistas com a história”, aquelas que nos últimos três meses vimos desfilar no SAVANA, na STV e no País, com Jorge Rebelo, Jacinto Veloso, Graça Machel e agora Sérgio Vieira. Faltam-me, parece, nesse círculo de entrevistas figuras como o recém-homenageado “causídico primeiro” Domingos Arouca (como fonte alternativa e capaz de desfrelimizar a nossa visão da nossa história), Malangatana Valente Ngwenya, Lina Magaia. Espero, sinceramente que venham desfilar mais figuras desse porte na nossa história, e sobretudo os media nos ofereçam fontes alternativas.
Do cruzamento dessas fontes, das leituras nas entrelinhas do que eles (não) dizem, quem sabe construiremos o desígnio a que convidou-nos Severino Ngoenha: “Por Uma Dimensão Moçambicana da Consciência Histórica”.
Só com Consciência Histórica podemos almejar e empreender o Desenvolvimento. E Só com História – inabalável, factível, desfrelimizada - podemos ter Consciência Histórica, Causa Comum (a luta pelo Bem Comum) e só assim o Projecto Nação se realiza...
Caso contrário, continuaremos a ser uma sociedade em que somos Predadores de Nós Próprios, Estrangeiros de Nós Próprios, em que o individualismo arrivista e autofágico, qual corrida ao capital, impedirá que grandes propósitos como o ditoso Combate à Pobreza.
Eis que me regozijo pelo meu tão almejado papel dos media na (re)construção da nossa história. Espero que seja uma Agenda Consensual dos Media, em nome do Interesse Nacional.
A opinião de Noé Nhantumbo
A propósito das Entrevistas Com História, transcrevo uma opinião de uma das vozes mais críticas ao regime, que escreve directo do Chiveve, Noé Nhantumbo – sem que subscreva completamente a sua opinião, publicada na edição de segunda-feira, 18 de Agosto do Canal de Moçambique, confesso que aprecio alguns dos seus posicionamentos...com muita carga de “bias” é claro, mas opiniões próprias... porque eu adoro o dissenso!
Canal de Opinião: por Noé Nhantumbo, Entrevistas com ilustres e ziguezagues discursivos
Muita palha pouco arroz...
Beira (Canal de Moçambique) - A única coisa de interesse que se deve dizer é que finalmente algumas vozes entre os ilustres libertadores se começam a ouvir. Parece que de uma maneira ou de outra, certas pessoas que tiveram o mérito de consentir sacrifícios para Moçambique fosse um país independente estão conseguindo vir a publico contra um pouco daquilo que são as suas ideias. Aquilo que não conseguem dizer pode-se ler nas entrelinhas. Pelas perguntas que os jornalistas se atrevem a fazer e pelas respostas pode-se concluir que parte dos nossos libertadores não está satisfeita com o rumo das coisas no país. Claro que não é fácil de um momento para outro renegar todo um passado. Também julgo que não se pretende isso. O que os moçambicanos pretendem e necessitam é que a discussão dos assuntos do país não seja centralizada na capital e que tais assuntos tenham também como referencia aquilo que pensam os outros cidadãos no país. Afinal ninguém é proprietário absoluto da razão e o país não é só Maputo, como é óbvio. As entrevistas que recentemente tem passado nos órgãos de informação tem um aspecto positivo que é colocar pessoas importantes a falarem. Está claro que não há concordância mas que também existe relutância em se colocarem ao lado dos que defendem que a liderança nacional está falhando em muitas das opções escolhidas. O socialismo que existia nas mentes de alguns desapareceu e agora, como órfãos desprotegidos, procuram dizer aos moçambicanos que não estão arrependidos pelo que fizeram no passado. São afirmações circunstanciais e que acontecem numa situação em que ainda gozam de uma protecção que o regime do dia lhes oferece. Se a situação fosse diferente é de imaginar que alguns deles já teriam ido para o exílio, embora não seja isso que se recomenda pois só em liberdade, se poderá discutir e escrever a verdadeira História. Nota-se em quase todos os discursos e entrevistas que as pessoas não estão preparadas para reconhecer que houve muitos erros e excessos da parte daqueles que se diziam com razão e defendendo alegadamente a linha revolucionária no quadro do movimento de libertação de Moçambique. De toda a experiência relatada nas entrevistas que alguns ilustres dão, é de notar a fuga perante perguntas pertinentes e que os moçambicanos precisam de saber. Não conseguem dizer abertamente que as coisas andam mal porque o partido no poder ficou vazio de iniciativas. Não há uma linha clara de orientação ideológica. As pessoas aproveitam tudo o que podem neste capitalismo selvagem de génese nitidamente política e sobretudo partidária. Hoje os companheiros de ontem aparecem falando, mas não conseguem dizer que o que os unia já não existe. Hoje os valores que se defendem são as contas bancárias e os palacetes, os terrenos, os hotéis, as estâncias turísticas, as empresas de telecomunicações, as participações no capital de empresas de transporte ferroviário. Hoje o luxo já não é inimigo da revolução como se ouvia dizer num passado relativamente recente. Infelizmente os entrevistados não nos conseguem explicar como foi que camaradas seus de repente se tornaram capitalistas. Não tem explicação plausível a origem da depredação do parque industrial estatal, nem da destruição da rica experiência de capitalismo estatal que existia. Hoje tudo o que de positivo havia sido feito nos tempos da primeira república foi propositadamente enterrado como se de algo com peste se tratasse. O aparecimento de alguns ilustres falando é de facto importante e interessante. Mostra que afinal a tal discussão interna dos assuntos ao nível de seu partido não é tão linear como querem fazer entender. Quando aparecem trânsfugas é porque não existe ambiente interno para a discussão ou abordagem de assuntos considerados importantes. Quem afirma que não existem alas na Frelimo esta mentindo com os dentes todos. Existem, mesmo que seja ao nível do capital acumulado por aqueles que tiveram êxito e os que se deixaram ficar a dormir na hora da repartição do espolio, ou que foram simplesmente esquecidos devido à sua marginalidade ou alegada falta de importância no contexto em que realizavam as partilhas. O centralismo declaradamente existente no capítulo da deliberação dos caminhos a seguir, não oferece espaço para que alguns dos ilustres se façam ouvir. Até porque já não fazem parte dos órgãos centrais do partido nomeadamente a sua Comissão Politica. Aquele poder que algum dia tiveram no passado já não existe. A sua tentativa estóica de defender factos que todos sabemos não corresponder à verdade é um serviço para o seu partido de sempre. Só que este partido já não é o mesmo. Moçambique precisa de mais intervenções de pessoas que tiveram um passado relevante na sua história. Só que isso tem de significar apresentar opiniões que ajudem o país a desenvolver-se e não aparecerem pessoas que nos queiram fazer engolir sapos vivos e a história falseada. É uma situação caracterizada por uma avalanche discursiva sem qualquer relação concreta com os procedimentos que fazem falta. Mostra-se um exercício sem utilidade prática. E se excluirmos os claros objectivos eleitoralistas que esses exercícios encerram, pouco mais resta. Falta uma grande dose de coragem da parte dos ilustres entrevistados para avançarem com ideias que julgamos que terão quanto à situação concreta que se vive. Não estamos dispostos a acreditar que nada tem a dizer quanto ao estado lastimável da actuação da administração da justiça, da polícia, das opções na agricultura, de migração, da banca e de muitos outros temas. Nada é tão linear como nos procuram fazer entender. A falência do marxismo que alguns se dizem defensores não foi obra do acaso. A sociedade de características liberais que o substituiu mas na verdade sociedade dependente de todos um pouco, também não é fruto de altruísmos. Espera-se que as poucas entrevistas públicas oferecidas sejam o início de um debate profundo envolvendo moçambicanos de todas as sensibilidades em prol de um progresso que inclua todos. A vida deste país não se pode limitar a Maputo, aos seus bairros nobres onde habita a nomenclatura. A discussão dos assuntos de interesse nacional não se pode circunscrever a supostos detentores da razão. Aqueles que vivem no limiar da dignidade humana, os habitantes dos subúrbios e das zonas rurais deste país também deram parte de si para que este país se tornasse independente. Importa com urgência desmistificar uma tendência de idolatrar lideres e coloca-los em pedestais como se de pequenos deuses se tratasse. Os dirigentes de uma república que se pretende democrática devem estar mais perto dos cidadãos e acessíveis aos mesmos. Cabe aos ilustres libertadores e a todas as forças políticas deste país reinventar a política em Moçambique. O que tem sido feito e dito é demasiado pouco. A repetição de discursos por parte de certos políticos mostra um esgotamento evidente. Fora daqueles slogans com que infelizmente nos habituaram, já não possuem alternativas válidas para apresentar ao país e também não querem permitir que outros moçambicanos se façam ouvir. Tem de ficar claro para todos que a exclusão dos outros diminui as possibilidades de fazer avançar o país. Ficam diminuídas as oportunidades de usar recursos humanos que existem. Os insucessos que se assistem são resultados da exclusão dos outros e de uma teimosia histórica de admitir que quem não participou na luta de libertação nacional também é moçambicano com opiniões validas. São posicionamentos extremos como esses que nos colocam na cauda do mundo em termos de desenvolvimento. Esperamos que os ilustres libertadores que ainda existem ajudem com o seu saber e contribuam para que a reconciliação nacional tão necessária se concretize. Só que isso tem de ser fruto de diálogos abertos para aprendermos a não ter medo dos outros...
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Maio, o Mês da Liberdade
Caros blogueiros e bloguistas, volto à actividade, no mês da Liberdade. Quem tem sentido de história sabe que Maio começa com o Dia do Trabalhador, a celebrar um épico levantamento/marcha/protesto dos trabalhadores (creio que em Chicago, EUA) pelo valor da Liberdade laboral...de horários mais humanos e humanizantes de trabalho.
Segue-se o 3 de Maio, Dia da Liberdade de Imprensa. Tive o grato prazer de participar de uma palestra proferida por José Rodrigues dos Santos, o "pivot" da RTP nascido na Beira (tal como Carlos Cardoso, Mia Couto e outros "muzungos" que honram a moçambicanidade), nesse dia nosso dos jornalistas e dos amantes e defensores da Liberdade de Imprensa e de Expressão.
Pude debater com José Rodrigues dos Santos sobre os vícios de que enfermam os nossos "media" públicos que os impede de exercerem em pleno sua liberdade (nomeadamente a auto-censura; a consciência errada e servilista de que são empregados do governo do dia, do regime da FRELIMO); desafiei-o a falar do "Caso Berlusconi" em Itália (Silvio "Sua Emmitenza" Berlusconi, Primeiro-Ministro eleito escandalosamente pela quarta vez nos últimos oito anos; detentor de órgãos de informação e de agências de publicidade e por inerência do cargo de PM com algum poder para limitar/controlar os poderes da RAI), com ponte no "Caso Balsemão" em Portugal e como ante-câmara para Moçambique (Guebuza, o Presidente da República é na sua vertente empresarial dono do misteriosamente desaparecido de circulação semanário privado Meia-Noite e da Editora Produções Lua).
Questionei igualmente ao JRS sobre o valor do contra-informação em Portugal (um fenómeno de sátira televisiva que permitiu o exercício da crítica ao regime russo e a consciencialização política dos cidadãos moscovitas na Rússia, por uma TV privada hoje desmantelada pelo regime de Putin). Claro que eu estava a pensar comparativamente com o suplemento humorístico "SACANA" e a sua coluna da Hora do Fecho (Diz-se, Diz-se) onde se exercício da má língua, amplificação dos "whispers" e "gossips" permitem ao Jornal SAVANA (minha verdadeira escola de jornalismo!) dizer às pessoas aquilo que os seus textos jornalísticos não podem ou não conseguem dizer, numa "mistura explosiva" de opinião e informação.
Pude lá participar - ido de Chimoio onde me radicara por duas semanas por obrigações profissionais - graças ao desafio feito pelo meu ex-chefe de redacção por 2 meses no Zambeze, ex-colega de escola na extinta UFICS (curiosamente somos ambos "college drop-out" uficsianos), hoje colega (ele mais adiantado) do curso de comunicação mas em unive's diferentes (ele sempre fiel à "alma mater" UEM, eu na minha nova paixão universitária APolitécnica), sempre "camarada de ofício" nas lides do escrever e amigo: Ericino Higínio de Salema.
Maio, na celebração da Liberdade, prossegue com o recordar das duas semanas mais marcantes da história contemporânea do "Velho Continente" e do Mundo Ocidental - com implicações ideológicas no mundo inteiro, a meu ver, aqui da esquina do Hemisfério Sul, África Austral -, nomeadamente, quando em Paris, a 12 de Maio de 1968 estalou a mais histórica greve geral com cheiro à rebelião/sedição que marcou o resto das gerações mas que infelizmente por cá parece haver memória fugaz ou relapsa para valorizá-lo. Claro que estou a falar de Paris, Maio de 1968! Se a França é a terra da revolução, aquela que inscreveu os ideais de Liberté, Egalité, Fraternité (Liberdade, Igualdade, Fraternidade) como sua divisa, a partir de então legitimou-se Cidade da Liberdade Paris A Virtuosa... Ah Paris!, com a sua sumptuosidade sumarizada no Quartier Latin (ode aos escritores e cultores do saber filosófico), na catedral Notre Dame, no Musée du Louvre (Monalisa/Gioconda, A Madona dos Rochedos, O Homem do Vitrúvio... Da Vinci...Da Vinci Code!), nos Champs Elysées, L'Arc du Triomphe e nos Bois-de-Boulogne (como é bom ver o vencedor do Tour de France, a Grand Boucle, ser coroado ao alcançar os primeiros, após cruzar o segundo, depois de percorrer olimpicamente os terceiros) e epitomizada na Tour Eiffel!
Mas, para nós Africanos, Maio termina a 25 celebrando a nossa Libertação simbolizada no 25 de Maio de 1963, Dia da criação da extinta Organização da Unidade Africana, essa que o coronel da Revolução Verde, Muammar Al-Gaddafi, conseguiu transformar em União Africana... no seguimento da sua quimera (não utopia) inspirada em Kwame Nkrumah de Estados Unidos da África.
Eis, pois, que me debruço aqui, blogosferamente sobre o Valor da Liberdade neste mês de Maio. A despeito de não ser professor de História, espero ter-vos brindado com uma aula de história universal, já que infelizmente os "media" não cumprem esse papel (leiam o meu post "Walking In Memphis"...para perceberem do que estou a falar)... Essa é a minha forma de diagnosticar State of Mind dos Media. Aliás, raison d'être deste meu "métier" aqui de blogueiro (um dia espero ser bloguista, estudioso desta esfera pública).
Este post é em homenagem ao senhor Fernando Balthazar de Teixeira Lima meu amigo, "camarada de ofício", ex-PCA, correligionário (partilhamos/comungamos visões, opiniões, sonhos quanto ao futuro dos "media", do jornalismo e da imprensa, apesar da diferença de idades/gerações e de um diferendo indelevelmente marcado num dos termos da nossa recente relação patrão/empregado).
Fernando Lima foi o único jornalista de expressão lusófona seleccionado para o Prémio CNN Multichoice 2008 que premeia a excelência do Jornalismo Africano (um dia destes ainda partilho convosco a minha opinião sobre o que é jornalismo africano, não "copy and paste" do que se faz no Ocidente e, no caso de nós PALOP, no Brasil). Fernando Lima representa o que de melhor há na "velha guarda" do jornalismo em Moçambique, essa a quem atribui o papel de "guardiões da memória", e que devia ser ela o grosso dos professores a dar aulas nas faculdades de jornalismo.
Pela Memória da Liberdade, de Imprensa, Universal e de África, eu, Milton Machel, bloguei hoje...
Subscrever:
Mensagens (Atom)