segunda-feira, 19 de maio de 2008

Maio, o Mês da Liberdade

Caros blogueiros e bloguistas, volto à actividade, no mês da Liberdade. Quem tem sentido de história sabe que Maio começa com o Dia do Trabalhador, a celebrar um épico levantamento/marcha/protesto dos trabalhadores (creio que em Chicago, EUA) pelo valor da Liberdade laboral...de horários mais humanos e humanizantes de trabalho.
Segue-se o 3 de Maio, Dia da Liberdade de Imprensa. Tive o grato prazer de participar de uma palestra proferida por José Rodrigues dos Santos, o "pivot" da RTP nascido na Beira (tal como Carlos Cardoso, Mia Couto e outros "muzungos" que honram a moçambicanidade), nesse dia nosso dos jornalistas e dos amantes e defensores da Liberdade de Imprensa e de Expressão.
Pude debater com José Rodrigues dos Santos sobre os vícios de que enfermam os nossos "media" públicos que os impede de exercerem em pleno sua liberdade (nomeadamente a auto-censura; a consciência errada e servilista de que são empregados do governo do dia, do regime da FRELIMO); desafiei-o a falar do "Caso Berlusconi" em Itália (Silvio "Sua Emmitenza" Berlusconi, Primeiro-Ministro eleito escandalosamente pela quarta vez nos últimos oito anos; detentor de órgãos de informação e de agências de publicidade e por inerência do cargo de PM com algum poder para limitar/controlar os poderes da RAI), com ponte no "Caso Balsemão" em Portugal e como ante-câmara para Moçambique (Guebuza, o Presidente da República é na sua vertente empresarial dono do misteriosamente desaparecido de circulação semanário privado Meia-Noite e da Editora Produções Lua).
Questionei igualmente ao JRS sobre o valor do contra-informação em Portugal (um fenómeno de sátira televisiva que permitiu o exercício da crítica ao regime russo e a consciencialização política dos cidadãos moscovitas na Rússia, por uma TV privada hoje desmantelada pelo regime de Putin). Claro que eu estava a pensar comparativamente com o suplemento humorístico "SACANA" e a sua coluna da Hora do Fecho (Diz-se, Diz-se) onde se exercício da má língua, amplificação dos "whispers" e "gossips" permitem ao Jornal SAVANA (minha verdadeira escola de jornalismo!) dizer às pessoas aquilo que os seus textos jornalísticos não podem ou não conseguem dizer, numa "mistura explosiva" de opinião e informação.
Pude lá participar - ido de Chimoio onde me radicara por duas semanas por obrigações profissionais - graças ao desafio feito pelo meu ex-chefe de redacção por 2 meses no Zambeze, ex-colega de escola na extinta UFICS (curiosamente somos ambos "college drop-out" uficsianos), hoje colega (ele mais adiantado) do curso de comunicação mas em unive's diferentes (ele sempre fiel à "alma mater" UEM, eu na minha nova paixão universitária APolitécnica), sempre "camarada de ofício" nas lides do escrever e amigo: Ericino Higínio de Salema.
Maio, na celebração da Liberdade, prossegue com o recordar das duas semanas mais marcantes da história contemporânea do "Velho Continente" e do Mundo Ocidental - com implicações ideológicas no mundo inteiro, a meu ver, aqui da esquina do Hemisfério Sul, África Austral -, nomeadamente, quando em Paris, a 12 de Maio de 1968 estalou a mais histórica greve geral com cheiro à rebelião/sedição que marcou o resto das gerações mas que infelizmente por cá parece haver memória fugaz ou relapsa para valorizá-lo. Claro que estou a falar de Paris, Maio de 1968! Se a França é a terra da revolução, aquela que inscreveu os ideais de Liberté, Egalité, Fraternité (Liberdade, Igualdade, Fraternidade) como sua divisa, a partir de então legitimou-se Cidade da Liberdade Paris A Virtuosa... Ah Paris!, com a sua sumptuosidade sumarizada no Quartier Latin (ode aos escritores e cultores do saber filosófico), na catedral Notre Dame, no Musée du Louvre (Monalisa/Gioconda, A Madona dos Rochedos, O Homem do Vitrúvio... Da Vinci...Da Vinci Code!), nos Champs Elysées, L'Arc du Triomphe e nos Bois-de-Boulogne (como é bom ver o vencedor do Tour de France, a Grand Boucle, ser coroado ao alcançar os primeiros, após cruzar o segundo, depois de percorrer olimpicamente os terceiros) e epitomizada na Tour Eiffel!
Mas, para nós Africanos, Maio termina a 25 celebrando a nossa Libertação simbolizada no 25 de Maio de 1963, Dia da criação da extinta Organização da Unidade Africana, essa que o coronel da Revolução Verde, Muammar Al-Gaddafi, conseguiu transformar em União Africana... no seguimento da sua quimera (não utopia) inspirada em Kwame Nkrumah de Estados Unidos da África.
Eis, pois, que me debruço aqui, blogosferamente sobre o Valor da Liberdade neste mês de Maio. A despeito de não ser professor de História, espero ter-vos brindado com uma aula de história universal, já que infelizmente os "media" não cumprem esse papel (leiam o meu post "Walking In Memphis"...para perceberem do que estou a falar)... Essa é a minha forma de diagnosticar State of Mind dos Media. Aliás, raison d'être deste meu "métier" aqui de blogueiro (um dia espero ser bloguista, estudioso desta esfera pública).
Este post é em homenagem ao senhor Fernando Balthazar de Teixeira Lima meu amigo, "camarada de ofício", ex-PCA, correligionário (partilhamos/comungamos visões, opiniões, sonhos quanto ao futuro dos "media", do jornalismo e da imprensa, apesar da diferença de idades/gerações e de um diferendo indelevelmente marcado num dos termos da nossa recente relação patrão/empregado).
Fernando Lima foi o único jornalista de expressão lusófona seleccionado para o Prémio CNN Multichoice 2008 que premeia a excelência do Jornalismo Africano (um dia destes ainda partilho convosco a minha opinião sobre o que é jornalismo africano, não "copy and paste" do que se faz no Ocidente e, no caso de nós PALOP, no Brasil). Fernando Lima representa o que de melhor há na "velha guarda" do jornalismo em Moçambique, essa a quem atribui o papel de "guardiões da memória", e que devia ser ela o grosso dos professores a dar aulas nas faculdades de jornalismo.
Pela Memória da Liberdade, de Imprensa, Universal e de África, eu, Milton Machel, bloguei hoje...