terça-feira, 8 de abril de 2008

O Estado do Jornalismo Moçambicano segundo Josué Bila

Josué Bila, jornalista que decidiu especializar-se em questões de Direitos Humanos, assina na mais recente edição da revista electrónica internacional de DH (de que ele é editor em Moçambique) um artigo qual diagnóstico do jornalismo em Moçambique. É uma leitura mais perspicaz, mais lúcida e mais "bisturizada" relativamente às minhas interpelações sobre o Estado do Jornalismo Moçambicano, algo que o Bayano Valy também vem fazendo de forma ainda mais inteligente e persistente no seu Nullius in Verba. Este texto do Josué é um "must read". Daí que não me coibi de fazer um "copy and paste" do artigo que ele me enviou por email, o que agradeço bastante pela atenção.

Do jornalismo provinciano e faz-tudo ao jornalismo responsável

Por Josué Bila

(Dedico este artigo ao já falecido jornalista Xavier Tsenane, que, em 2001, me deu as primeiras e inesquecíveis aulas práticas de jornalismo)

“Os profissionais de informação devem evitar falar de generalidades, falar de tudo para dizer pouco; por isso, devem especializar-se em áreas determinadas, apoiadas, porém, numa cultura geral... Só abraça o jornalismo quem tem inteligência clara e amor à verdade” - Brazão Mazula (1999)

O jornalismo moçambicano parece não querer sair do período de jornalismo provinciano, faz-tudo e pré-intelectual, para o jornalismo de especialidade e responsável. Assim colocado, qual é, então, o papel dos jornalistas, órgãos de informação e do Sindicato Nacional de Jornalistas?
Permitam-me, antes, pensar que o jornalismo provinciano e pré-intelectual é aquele em que os jornalistas e os seus órgãos de informação, sem que tenham bases intelectuais sólidas e conhecimento suficiente sobre um ou vários assuntos, entrevistam, noticiam, reportam, opinam e criticam, rastejando-se, deste modo, entre a mediocridade, ignorância e desinformação, à mistura de alhos e bugalhos jornalísticos.
Contrariamente, o jornalismo de especialidade e responsável seria aquele em que os jornalistas e seus órgãos de informação têm preparação intelectual e especialização profissional sólidas, aprofundando determinadas áreas de saber, para entrevistar, noticiar, reportar, opinar e criticar, com ética e responsabilidade jornalísticas.
Em Moçambique, o jornalismo provinciano, faz-tudo e pré-intelectual é o mais abundante e está na moda. Ele está assente na produção rápida de várias notícias e reportagens por um jornalista, sem que antes tenha feito a mínima investigação ou tenha compreendido o assunto, para responder às exigências dos editores ou donos do órgão de informação ou ainda para satisfazer os seus interesses de irresponsabilidade jornalística. Em sete horas, um jornalista noticia ou reporta, sob orientações dos editores ou por iniciativa própria, duas notícias e reportagens de áreas diferentes, cujo conhecimento prévio e sólido é quase nulo. Por exemplo, em um mesmo dia, é capaz de, numa manhã, cobrir um encontro sobre as vantagens dos biocombustíveis e, numa tarde, estar em uma conferência de imprensa sobre o balanço de um evento musical, decorrido no fim-de-semana último. Esses assuntos são diferentes e requerem jornalistas de áreas específicas e não jornalistas provincianos, fazem-tudo e pré-intelectuais: não basta tomar notas e passá-las ao bloco e ao computador. Há que compreender o que se diz; criticar as notas tomadas e sistematizar a informação, de forma coerente, sábia e inteligente para o público.
Um dos defeitos do jornalismo provinciano, faz-tudo e pré-intelectual, misturado com o sensacionalismo provinciano, é perpetuar a ideia de que uma notícia, reportagem ou opinião tem qualidade quando for apresentado antes dos outros órgãos, mesmo que não tenha interesse para o nosso bem cultural, social, político, económico ou diplomático, ou mesmo não tenha sido investigado, como, em muitos dos casos, acontece. Alisto, aqui, notícias e reportagens-escândalo, sem provas. Para quê tanto protagonismo provinciano? Para quê forçar a fama instável, umbilical e negativamente profana? Em nossos órgãos de informação, o ”bom” jornalista passou a ser o jornalista-quantidade e não o jornalista-qualidade - este sabe, prevê, pensa e faz refletir. A forma como se recruta jornalistas, em nosso meio, não difere muito da forma como se admite estivadores. Este jornalismo, o provinciano, faz-tudo e pré-intelectual, ainda impercebe, nega e subestima que a qualidade de uma informação jornalística está na colocação coerente e responsável de dados atempadamente investigados, com intelectualidade, lógica e ética jornalísticas. E isso não é feito antes pelo bloco de notas, câmera, micro-fone, micro-gravador, viatura para reportagem, paginador e etc, mas, sim, por jornalismo e jornalistas intectualmente sofisticados e politicamente robustos, que não só têm uma forma local e redutora de ver e perceber o mundo e o que lhe rodeia. Entre nós, jornalistas há que estão sempre no parlamento, mas nunca leram normas sobre o seu funcionamento e direitos e deveres do deputado; já não digo uma simples leitura de alguns capítulos sobre Estado, Governo, partidos políticos e ciência política, por exemplo – isto prova o quão provinciano, faz-tudo e pré-intelectual é o nosso jornalismo.
Por isso, o jornalismo de especialidade e responsável é o quase-inexistente, entre nós, salvo raras e honrosas excepções. E o processo de sua existência é tão necessária quanto a paz e o desenvolvimento. Sugiro que a classe de jornalistas faça uma organização interna e que o Sindicato Nacional de Jornalistas desperte de sua hibernação, antes que chegue o dia de “paz à sua alma!!!”, o que não faz parte do desejável.

Organização interna
· Que um órgão de informação possa escolher duas ou três áreas-chave sobre as quais prefira trabalhar jornalística e detalhadamente (pelo menos, o telespectador, radiouvinte, leitor ou internauta procurará informar-se, sabendo que nesse órgão não será desiludido, com quantidade sem qualidade, sensacionalismo e protagonismo provinciano);
· Que os jornalistas possam dedicar-se, individualmente, em uma área determinada – lendo, investigando e estudando sobre ela, sempre e sempre;
· Que haja um programa de auto-didatismo e formação superior para todos jornalistas a curto, médio e longo prazos, bolsas de estudos, aumento substancial e robusto de salários e cumprimento de direitos laborais pelo patronato, prémios e intercâmbios nacionais e internacionais. (É louvável o esforço individual de jornalistas que concluiram o ensino superior e outros que estão por concluir, bem como a sua notável pujança jornalístico-intelectual – aqui, incluo também àqueles que, mesmo não tendo o ensino superior, mostram qualidades intelectuais, profissionalmente sofisticadas. Estendo esse louvor à Universidade Eduardo Mondlane que, através da Escola de Comunicação e Artes, oferece anualmente vagas a jornalistas. Devo dizer também que dificuldades intelectuais e académicas há que não devem ser somente imputadas aos jornalistas, mas à forma como está organizada e estruturada a nossa sociedade. A nossa sociedade, de um modo geral, não estimula nem valoriza bons pensadores, profissionais e pessoas dadas a cultura do intelecto. Estimula muito a cultura colorida. Como é possível que uma sociedade que está carente de desenvolvimento tenha mais e só estímulos públicos para jovens cantores e não haja estímulos para jovens intelectuais e jornalistas? A referência supervisível do nosso jovem passou a ser de quem mais dança e canta “dzukuta”, por exemplo; e aquele que lê, pensa, critica e escreve é invisibilizado, cretinizado, subestimado e subaproveitado, bastas vezes. Quais são os critérios que se usam para supervisibilizar uns e invisibilizar outros?). Insisto em apelidar essa atitude de provinciana, rural, mitológica e pré-intelectual, que caracteriza as acções do dia-a-dia da sociedade moçambicana.
· Os órgãos de informação deveriam doravante ter critérios de jornalismo de especialidade e responsável ou jornalismo intelectuamente sofisticado para as redacções (Já é tempo de se trazer/fazer frescura profissional no jornalismo. Os moçambicanos têm direito à informação de qualidade. E o direito humano à informação é inegociável. Se os cidadãos têm esse direito significa que alguém tem o dever de materializá-lo).

Sindicato Nacional de Jornalistas
· Que se (re) organize o Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ), para que responda às exigências de uma organização jornalística contemporânea;
· O SNJ deve promover debates sobre problemas de actualidade jornalística, cultural, social, económica e política de Moçambique, África e do mundo em geral;
· O SNJ precisa de um investimento ou avivamento espiritual e moral: os jornalistas não o tem como sua casa, não o prestigiam, nem o olham como um espaço onde possam discutir ideias, apontar os acertos e erros de sua vida jornalística e ampliar a solidariedade humana e profissional, actualmente, tão perdida quanto necessária. (O que mais se lembra do SNJ é, isso sim, meia ou uma dúzia de jornalistas e intelectuais, que se sentam a uma mesa, cujas ideias de uns, até à idade que têm, não são conhecidas, de forma coerente e marcante. Mas, devo dizer também que jornalistas e intelectuais há que se sentam à tal inesquecível mesa, que são ostentadores e detentores de um quilate racional invejável. Alguns, ainda, são intelectualmente recicláveis. Àqueloutros, não tenho comentários. O jornalista Carlos Humbelino perdeu a vida, há semanas. O SNJ olhou-o de alto a baixo, exorcizando um observar provinciano e pequenez ética sobre o colega, que deu a sua vida pelo jornalismo, independentemente de sua ideologia. Morrerá um outro, porque o nosso fim é esse, veremos uma “cerimónia de Estado”. Continuo a insistir em um jornalismo responsável e de ética social).
· Que o SNJ possa dialogar com o Governo sobre a isenção de impostos e outras facilidades para a chamada imprensa privada, porque esta presta igualmente serviço público de informação em condições materiais e financeiras desajustadas. Quem lê um jornal ou radiouve ou ainda televê alguma informação em um órgão privado é o público, o que significa que os privados prestam serviço público. Em temáticas de direito à informação, tenho dificuldades de refletir onde começa e termina o serviço público ou privado. Por exemplo, quando se noticia, por qualquer que seja o órgão de informação privada, que o Governo vai construir, ainda este ano, sete escolas no distrito de Manganja da Costa, província da Zambézia, não sei se o cidadão recebe essa informação de forma privada ou pública (os cinco sentidos e as informações valiosas que o cidadão recebe são privados ou públicos?). Estou certo, ao pensar que recebe a informação e cresce-lhe a esperança de que o seu país está a desenvolver. A isso não devemos fechar os olhos. E o desenvolvimento de Moçambique não é um assunto privado, mas de interesse público. É tempo de se discutir o sentido de público e privado, na área jornalística e no direito à informação. Aliás, embora pareça-me meio cooptativo, a decisão da presidência da República de, em viagens nacionais e internacionais do chefe de Estado, se incluir também jornalistas de órgãos privados, é uma experiência a sublinhar. Mas, há que se apoiar em meios aos órgãos privados, para que façam trabalho onde o chefe de Estado ou elemento do Governo não esteja – isto pode reduzir a auto-censura e elevar a liberdade informacional. Penso não ter estabelecido alguma causa-efeito.
· Que o SNJ possa dialogar e criar memorandos de entendimento com instituições de ensino superior para a concessão de bolsas de estudo ou vagas;
· Que o SNJ possa lutar pelo cumprimento de direitos e deveres de jornalistas; e
· Que o SNJ possa internacionalizar-se, porque, nas condições nas quais se encontra, ele é muitíssimo provinciano e decadente (há sete anos que presto alguma atenção nele). Caso o SNJ saia desse provincianismo e hibernação, poderá ajudar esta proposta contemporânea e cosmopolita: jornalismo de especialidade e responsável.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

“Walking in Memphis” ou o Triplo M (Martin Luther King Jr, Media e Memória) ou Ensaio Sobre Cegueira

Everyone has the power for greatness, not fame but greatness, because greatness is determined by service – Martin Luther King Jr


Sometimes we are blind men, leading blind men” – Mzi Ntuli, colega minha e Gestora de Programa na Oxfam GB em Moçambique

Ignorar o que aconteceu antes de se ter nascido, equivale a ser-se eternamente criança” – citação de memória, a um sábio cujo nome não me ocorre
1. Assinalam-se hoje precisamente 40 anos do assassinato, em Memphis, do Reverendo Martin Luther King Jr, Prémio Nobel da Paz, activista norte-afro/negro-americano dos direitos cívicos, divulgador-mor da doutrina da “Acção Não-Violenta” de Mohandas Kasturba “Mahatma”(A Grande Alma) Gandhi e mentor do activismo político dos reverendos Jesse Jackson, Al Sharpton e de Barack Hussein Obama Jr.

Para celebrar o homem e a obra, hoje na “Casa dos Jornalistas” haverá uma palestra, julgo eu, a ser proferida por Silvério Ronguane, filósofo moçambicano que já quis envolver-se na política mas hoje remetido à academia. Será, passe a publicidade (não paga, diga-se!), ocasião igualmente para o lançamento creio eu do futuro Instituto Martin Luther King em Moçambique (como um kinguista e americanista, estou curiosíssimo em perceber que valores pretendem instilar nesta anómica sociedade moçambicana).
Será igualmente uma chance para os kinguistas, de que me considero último na bicha, se encontrarem: espero (se nada me impedir de lá estar) encontrar o Gustavo Mavie (que sei que nas suas aulas, em tirocínio como professor universitário, falava mais de MLK Jr que propriamente de Teorias da Comunicação), o José Belmiro (esse jovem jornalista e aspirante a jurista que tem no sangue aquilo que é o ingrediente básico de um jornalista: ser rebelde por causa).

2. Quando comecei a pensar sobre esta postagem, dei-me conta de um facto, a que chamo atenção dos cientistas sociais: como muitos devem saber, os americanos não celebram este dia...embora o rememorem, pois a tradição ou cultura celebratória americana dá valor ao dia do nascimento dos seus heróis, por isso é que o dia de nascimento (15 de Janeiro) de Martin Luther King Jr é que é “National Day” nos Estados Unidos da América. Suponho que assim o seja para outros heróis da nação cujo hino é “Gob Bless America” e que inscreve na sua poderosa nota “In God We Trust”, como símbolos de que a Providência Divina é que criou a América “Super Power” e “Super Model” que todo o mundo seguir.
Pelo contrário, a nossa cultura celebratória reivindica o dia da morte dos nossos heróis como Feriado Nacional, daí que muitos não se lembrem que Samora Mandande Moisés Machel nasceu a 29 de Setembro de 1933 e Eduardo Chivambo “Chitlango Kambane” Mondlane veio ao mundo a 20 de Junho de 1920, mas saibam de côr que 19 de Outubro é dia do Desastre de Mbuzini e 3 de Fevereiro do assassinato do “Pai da Unidade Nacional”. Para os cientistas sociais, (pode ser que na academia alguém já tenha tratado isto, uma vez que sou “college drop-out” da ex-UFICS na UEM ignoro-o) fica o desafio a que pensem nisto: Moçambique (celebra o dia da morte dos seus heróis) vs América (celebra o dia do nascimento dos seus heróis).

3. Voltando ao tema em epígrafe, hoje, ao som de “Walking in Memphis” de Marc Cohn, dei uma passeata pela imprensa (porque considero-a o real espelho dos media, também porque estamos num país em que jornalismo radiofónico é apenas exercido pela Rádio Moçambique e o espectro televisivo ainda é bebé quando estamos a falar de jornalismo)... a procura do que escreveram sobre Martin Luther King Jr, passados 40 anos do seu assassinato. Desiludo-me! E espero, igualmente, desiludir-me, infelizmente, nos próximos dias, pela forma superficial com que se reportam eventos em Moçambique (espero que me desminta a imprensa, com coberturas plurais e aprofundadas não sobre a palestra, mas sobre o que se vai debater na palestra, e não sobre o Instituto Martin Luther King mas sobre o que pretende essa instituição difundir/edificar na nossa sociedade).
É que, conforme já me debrucei em ocasiões anteriores, um dos condicionantes da agenda do jornalismo em Moçambique, logo da sua qualidade, é que se (mal) pratica o EVENTS-DRIVEN JOURNALISM (jornalismo condicionado por eventos) não ISSUES-DRIVEN JOURNALISM (jornalismo conduzido por assuntos).
E mal-pratica-se (desculpem-me adulterar do inglês o malpractice) esse mesmo EVENTS-DRIVEN JOURNALISM precisamente por se reportar não o que se discutiu nesses workshops, seminários, palestras, debates, mas noticia-se a realização desses eventos “tout court” (banalizando-se os fundamentos da notícia: o quê, onde, quando, quem e como) e depois entrevista-se os mentores do mesmo para se saber das causas e objectivos do mesmo (porquê, para quê?) e FULL STOP!

4. Diante deste cenário de perda de qualidade e perante aquilo a que os estudiosos de jornalismo designam por “A Tirania do Tempo (e do Espaço)”, recomenda-se que redacções devem ter o que eu designo por...não professor Marcelino Alves, não são os “gate-keepers” desta vez!, mas “Guardiões da Memória”.

Olhando para os nossos “media”, mormente imprensa e televisão (na Rádio acho que João de Sousa e Orlanda Mendes são os eleitos), eu nomearia as seguintes figuras para “Guardiões da Memória”:
- Augusto de Carvalho no jornal Domingo, ele que não tem sabido honrar o facto de ser um dos co-fundadores (o prof. Marcelo Rebelo de Sousa e o “magnata da comunicação social” Pinto Balsemão são outros) do melhor semanário português e referência incontornável do jornalismo por excelência na comunidade lusófona, o Expresso;

- A dupla de Fernandos (Lima e Manuel) no jornal Savana/mediacoop. O Fernando Manuel fá-lo quando (o que já é raro) decide escrever crónicas jornalísticas e reportagens como só ele sabe, e mesmo de forma subtil nas suas brincadeiras da página Savana no Informal. Já o Fernando Lima cumpre esse papel ora nas suas croniquetas, ora em reportagens de viagens pelo país adentro, em que vai aproveitando aqui e ali para nos dar umas lições de história do Moçambique da era dos “Prazos da Coroa”, do tempo dos Mwenemutapa e da chamada Luta de Resistência, brindando-nos com suculentas estórias que nos fazem lembrar que a história de Moçambique não é a história dos heróis do Sul de Moçambique;

- Júlio Bicá na TVM, que já exerce esse papel, em parte, quando faz no Bom Dia Moçambique as suas brevíssimas “Páginas da História” (lembram-se deste programa no tempo da saudosa TVE?);

- Anabela Adrianopoulos na STV, o que ela muitas vezes fazia ao de leve nos seus extintos Diálogos, mas que ultimamente parece querer aderir à febre juvenília de shows sustentados pelo modelo de negócio SMS da mCel (este Capitalismo, até às Indústrias Culturais quer arregimentar!)...a não ser que (o que duvido) o desafio “Oxigénio” dela, na vertente de Cultura Geral e estímulo a descoberta de cérebros, pretenda ressuscitar algumas das boas coisas que o Vitor José fez no seu Sabadão antes de antingir a “senilidade inventiva” ou “Menopausa Intelectual Criativa”(MIC), e fazer recordar os edificantes Volta a Moçambique/Sabadar do “eciclopédico” Leite de Vasconcelos e de João de Sousa.

Falando de memória televisiva, lembro-me bem que o Vítor José descobriu aquele jovem cérebro em física chamado Alberto Adolfo (onde ele está hoje?), e recordo-me que no “Volta a Moçambique” de Leite de Vasconcelos brilhava a dupla de sábios Horácio Macedo (ainda está vivo este homem-enciclopédia?) e Maria de Fátima, tendo se destacado igualmente o jovem Erson Torre do Vale. Penso que foi mais com o “Volta Moçambique” do que nas aulas na Escola Primária “A Luta Continua” e depois na Escola Primária do Alto-Maé (dizem Paiva Manso, os que viveram e sabem de história). São apenas uns “snapshots” da minha memória à beira dos 30 anos de idade...

Tirando esses, presentes nas redacções, os outros “Guardiões da Memória” no jornalismo podem ser o pesquisador António Sopa, o multi-facético Machado da Graça, o académico das letras Calane da Silva, de entre outros que não me lembro ou que não conheço porque não sou um “connoisseur”, e nem me chamo Wiseman Nkulu (curioso o nome deste africanista...o que traduzido do inglês e do changana daria em Sábio Grande ou Grande Sábio, ou simplesmente Sabichão!).

Estes “Guardiões da Memória serão os responsáveis por:
- dar lições de cultura geral aos jovens repórteres e redactores, solidificando o sentido de história do próprio “medium” a que estão vinculados, e garantindo o “compromisso com a história”...para que os “media” não sejam quer caixas-de-ressonância da história ao sabor do regime do dia, qual “YES MEN JOURNALISM” (LAMBEBOTISMO JORNALÍSTICO), e nem sejam machambeiros das “sementes de sedição”, deturpando a história, conturbando o tecido social e perturbando às gerações mais novas e pouco (in)formadas;
- ajudar à edificação da memória colectiva, neste tempo de muita pressa, em que até o próprio jornalismo vai atropelando os “News Value” precisamente porque (escudado na tirania do tempo e do espaço) dá à notícia um estatuto de descartável, não informativa mas quiçá deformativa, permite-se que o que ontem era verdade hoje vire mentira, dê primazia à opinião ao invés da informação pura e dura. Estarão, os jornalistas de facto seniores e decanos da classe, a garantir o seguimento no processo daquilo que o filósofo moçambicano Severino Ngoenha apelou “Por Uma Dimensão Moçambicana da Consciência Histórica”.

5. Retornando ao Triplo M, é(ra) de esperar que os “Guardiões da Memória” estimulassem a investigação histórica, fizessem o “’linkage” entre as instituições que velam pela investigação, divulgação e preservação da história de Moçambique, de África e Universal; e que hoje 4 de Abril de 2008, aos 40 Anos do Assassinato do Reverendo Martin Luther King Jr, garantissem que os “media” difundissem hoje, não à moda do “Copy and Paste Approach (CP Approach)” que campeia nos nossos órgãos de informação, a obra de Martin Luther King Jr e o seu valor para a “Causa Moçambicana”, para o “Sonho Moçambicano”... Será que ainda vive o sonho moçambicano nesta sociedade nossa de capitalismo selvagem, de individualismo extremista, de consumismo doentio, ou estamos perante aquilo que Helen Prejean escreveu e a dupla Sean Penn/Susan Sarandon encenou como “Dead Man Walking”? Será que o sonho moçambicano morreu em Mbuzini? Será que já não somos ambiciosos como um dia disse Samora Machel, que “queremos ser produtores, consumidores e exportadores”?E será que algum jornal já procurou na Internet a tradução do discurso “I Have A Dream”/“Eu Tenho Um Sonho” e assim mesmo, numa saudável CP Approach, o colocou nas páginas do jornal como homenagem a Martin Luther King Jr?.

Em último, os “guardiões” desse templo chamado “Memória” garantirão que textos de história e cultura não sejam empurrados para uma “esquina” a que chamam de página de “Recreio e Divulgação”, num jornal histórico e de de referência chamado Notícias.
Enquanto não chega esse tempo de “resgate da memória”, os “media” como veículos, para renovar a minha esperança de que hoje será servido um verdadeiro “Chá da Sextas” (Fernando Manuel) de história e cultura, e porque dizia o poeta António Gedeão (cientista Rómulo de Carvalho) que “O Sonho Comanda a Vida”, vou ouvindo “devagar, devagarinho”, “leve, levezinho”, a balada de Marc Cohn, “Walking in Memphis”...

terça-feira, 1 de abril de 2008

A verdade das mentiras do 1 de Abril

Estou de volta, para gáudio do Prof. Carlos Serra e para alívio da minha auto-estima. Passam-se precisamente 4 meses e 16 dias desde que pela última vez postei aqui no Estado da Media. Entretanto, para não deixar no ócio o meu "State of Mind" (Estado da Mente), fui participando em acesos e interessantes debates nos blogues dos sociólogos desavindos (Carlos Serra e Patrício Langa), cuja "zanga intelectual" ou quiçá "metodológica" não é de todo um factor negativo na blogosfera, na "intelligentzia" e na academia nacionais. O dissenso só beneficiará à "Batalha das Ideias" (admiro El Comandante Fidel Castro Ruiz). FIM DE PRÓLOGO

Retorno a blogomania precisamente no DIA DAS MENTIRAS e, durante o dia de hoje, estarei aqui para "desmascarar", aliás, desvendar AS VERDADES DAS MENTIRAS criadas pelos nossos Media...mormente a imprensa.

Começo por destacar o diário Notícias, que na sua primeira página noticia: CARLOS QUEIRÓS NOVO TREINADOR DOS MAMBAS, numa manchete ilustrada por uma sugestiva foto triunfal de FEIZAL SIDAT e o Prof. a quem um dia chamei de "Macua Real" (bons tempos, o do finado Jornal Campeão!) quando treinou o Real Madrid É uma notícia muito bem sustentada em termos de argumentos...embora na parte que toca ao destino de Mart Nooij, o seleccionador nacional, tenham sido pouco felizes, a meu ver. Parece-me, porque o conheço "assinatura" nas suas prosas, um texto da autoria do imaginativo Alexandre Zandamela (meu ex-colega e chefe de redacção, e o Jeremias Langa então meu editor/mentor no saudoso CAMPEÃO).

O outro jornal, neste caso da imprensa electrónica, que "brilhou" neste 1 de Abril foi o Correio da Manhã (CM) propriedade do Prémio CNN Refinaldo Chilengue, o melhor jornal de economia (porque também único) do País, que na sua primeira página em caixa (não "cacha" como bem ensina o meu professor de Jornalismo I, Marcelino Alves) diz: GUEBUZA EXONERA PACHECO...com um antetítulo dizendo que NOMEIA MANDRA EM SUA SUBSTITUIÇÃO). Breve notícia, precisa, mas que denuncia-se claramente à moda 1 de Abril e não vai mais além.
Na imprensa electrónica, aliás, os faxes, quem mesmo "goleou" a concorrência foi o habitualmente fraco Diário do País (DP), que rasga a sua "front page" com um sensacional GUEBUZA EXONERA MINISTRA DA MULHER. O "lead" do DP é mesmo ilustrativo de como para fabricar mentiras eles desta vez conseguiram bater a concorrência: diz que o Chefe de Estado exonerou a Ministra da Mulher e Acção Social e o vice, Virgília Matabele e João Cândido, dos seus cargos e nomeou em despachos separados a Secretária da OMM Paulina Mateus para o cargo de ministra.
A estória está muito bem construída, sustentando-se em argumentos fortes, já relatados pelo próprio jornal faxe ou pela imprensa independente (de quem?) em ocasiões anteriores, tanto em desabono da belíssima ministra como do seu moralista primário (ou primitivo?) vice-ministro, o tal que assina a coluna Assombrações no colorido dominical sob o pseudónimo Kandiya Wa Matuva Kandiyane...embora agora os colunistas do domingo exibam a sua foto (pelo menos é pseudónimo e não há anonimato!). E, tanto o CM como o DP, sustentaram-se num argumento imbatível nos últimos tempos: as exonerações que Guebuza tem feito, qual "limpeza de balneário"...sob o sustentáculo de que "Não Há Prazos Para Mudanças"...
É interessante ver o quão criativos podem ser os "media" no DIA DAS MENTIRAS e nos restantes dias se debatam com a problemática da criatividade em ESCREVER VERDADES. Ainda vou averiguar se este ano houve ou não "festival de mentícias" pelos "media", ou se estes três é que brilharam...Posso também ser fintado pela criatividade de outros, ao aproveitarem as nossas eleições zimbabweanas para "vender papel" EM NOME DA MENTIRA.
Já agora, o que acham do papel social da mentira no dia 1 de Abril, veiculada pelos "media"?