sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O Circo Mediático vai aquecer: a guerra das telefonias (móveis)

Quinta-feira marca um novo ciclo no panorama do marketing nos media em Moçambique. Em anúnicio público pequeno, a mCel dava a conhecer (de forma insuspeitamente seca) que a GOLO - agência top de publicidade e marketing no País - deixa de ser sua prestadora de serviços a partir de 1 de Dezembro. O que quer dizer que os "spots"'patrão é patrão" e cia. já não serão a cara da mCel. Em anúncio garrafal (de página inteira) a GOLO informa no dia seguinte, hoje, sexta-feira, 16 de Novembro: OURO SOBRE AZUL. Golo a nova Agência da Vodacom. A Agência moçambicana mais premiada Nacional e internacionalmente foi escolhida pela Operadora líder mundial em telefonia móvel.

E o anúncio faz questão de destacar bem a nova linha telefónica da Agência: com a combinação numérica 84 saliente.

Estamos em presença do "acto de guerra" declarado da segunda fase da "guerra das telefonias móveis". O circo mediático, que levou um dia o jovem rebelde José Belmiro a apelidar Dilon Djindji de "palhaço de publicidade", vai aquecer...já que aparentemente o John e o seu patrão vão passar a ser a cara da Vodacom. Depois de muito dinheiro e muita campanha (sobretudo televisiva) esbanjados para atrair mais clientes, há que esperar para ver como serão alimentados os media (mormente electrónicos) pela máquina de marketing da mCel e da Vodacom...

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Parabéns ao Notícias: do Jornalismo como espelho do real

Estou de volta. Foram longos três meses de ausência da blogosfera. Volto mais dopado moralmente, como ser social (para o bem das conveniências sociais, como um homem casado; para o bem da minha saúde e profissão, gozei as primeiras férias em quatro anos), e como "homo jornalisticus" (depois de Machaze e Mossurize em Agosto; neste mês de Novembro estive no Dondo e conheci na Beira o "mítico" e controvertido bairro da Munhava (o Chamanculo, Soweto, Kibera lá do sítio onde mesmo que não sejas "mwatho mhunu" és tratado como "chamwari", sobretudo quando trabalhas no chamado "mundo do desenvolvimento, as bem/mal amadas ONGI's).
E volto com boas notícias do jornalismo moçambicano, por sinal de dois órgãos do "demonizado" sector público. A primeira:

1. Os meus parabéns ao Grande Repórter Bento Venâncio. Autêntico papa-prémios (nacionais e internacionais, em economia, saúde), Bento Venâncio é dos poucos jornalistas nacionais que mantém-se fiel áquilo que sabe...sabiamente (perdoe-se-me a redundância) fazer: ser repórter, retratar realidades usando os sentidos-chave do bom exercício da função, visão, audição e olfacto. A sua última reportagem, no jornal Domingo, sobre o problema da água em Nacala é disso exemplo, não obstante tenha nos brindado com uma pequena estória pouco explorada sobre uma "senhora das águas" que faz (não) chover a seu bel-prazer em determinada área. É, digamos, um daqueles "mitos rurais" que o jornalista deve explorar até o fundo (não vá o professor Elísio Macamo indignar-se com mais essa "africanidade retrógada" que não questiona antes propaga a ideia de "magia negra"!), viver e conhecer de perto tais feitos... mesmo que para tal (in)corra (em) risco (ser profissão de risco, o jornalismo, não é só no sentido de desafiar o poder instituído, "fuçar" os escândalos dos poderosos... é também desafiar "mitos rurais" e tradicionais das nossas comunidades...
Seja como for, ós meus parabéns ao Bento Venâncio... e que bem hajam os grandes repórteres do Domingo.

2. A outra boa notícia...agora do Notícias, é que a cada dia vai-se fazendo, de cronista/contador de estórias, um escritor no Albino Moisés através da sua coluna "Só O Que Aconteceu". O seu texto desta semana " Passa Guia de Marcha!", é disso relevador. Por acaso, para os politólogos, sociólogos e no geral "estudiosos do social", me parece querer (o Albino) questionar da utilidadeéficácia da guia de marcha, nestes tempos de criminalidade incontrolável...Do roubo como caso de estudo. Leiam a crónica em ...http://www.jornalnoticias.co.mz/pls/notimz2/getxml/pt/contentx/81099/20071112

3. A última boa notícia...ainda no Notícias, é a reportagem hoje em Primeiro Plano, a nobre página 2 do diário da Joaquim Lapa. É um daqueles trabalhos que nos faz regozijar do papel social do jornalismo (retratar, para propor soluções aos poderes, os problemas do quotidiano...que nunca devem deixar de ser notícia).
Neste caso, o Notícias pôs na rua seis repórteres para viverem na pele aquilo que os "finados" Estaca Zero cantaram como "Timhaka Ta Chapa" na cidade de Maputo.
Como, infelizmente, este tipo de trabalho não é regular na nossa imprens (o que devia ser e invalidava os meus cumprimentos), perante um jornalismo que vive atrelado à agenda de eventos (events-driven journalism), só posso dar os meus parabéns ao Notícias.

Num autêntico drama social em três actos, os repórteres do Notícias fazem-nos (re)viver na pele do "pacato cidadão" apertado, empurrado, insultado dia-após-dia em busca do ganha-pão.
Leiam se faz favor!

“Chapas”: corrupção, humilhação e vergonha(1)
CAOS é uma das palavras que se pode utilizar para descrever o ambiente que caracteriza o dia-a-dia no sub-sector dos transportes semicolectivos de passageiros nas cidades de Matola e Maputo. Não é para menos: os actos mais graves, nomeadamente corrupção entre os agentes da Polícia de Trânsito e Municipal, os motoristas ou cobradores, maus tratos aos utentes, encurtamento e desvios de rotas acontecem, regra geral, nas horas da ponta. »
Maputo, Quinta-Feira, 15 de Novembro de 2007:: Notícias
http://www.jornalnoticias.co.mz/pls/notimz2/getxml/pt/contentx/81810

“Chapas” - Episódios do dia 8 de Outubro : Passageiros ultrajados
Na manhã do dia 8 de Outubro, a nossa Reportagem seguiu viagem num “chapa” do bairro Nkobe, posto administrativo da Machava, Maputo-província. Nkobe é um bairro que está a cerca de 30 quilómetros do centro da capital do país. »
Maputo, Quinta-Feira, 15 de Novembro de 2007:: Notícias
http://www.jornalnoticias.co.mz/pls/notimz2/getxml/pt/contentx/81811

“Chapas” - Episódios do dia 9 de Outubro : Desvio e encurtamento de rotas
Uma equipa entra num “chapa”, matrícula MLZ 22-96, na paragem “Chico” cerca das 6:45 horas, bairro de Magoanine. Primeiramente, a viatura, com faixas Praça dos Combatentes/Mateque, ia a Hulene, mas naquele ponto mudou para Praça dos Combatentes (Xiquelene), onde chegou às 7:15. Vinte e três passageiros viajavam no carro, que em condições normais leva 15. Pelo barulho que se ouvia, a viatura é uma espécie de “discoteca móvel”. »
Maputo, Quinta-Feira, 15 de Novembro de 2007:: Notícias
http://www.jornalnoticias.co.mz/pls/notimz2/getxml/pt/contentx/81812

Gostei deste trabalho, mas confesso que gostaria de vê-lo retratado naquilo que cada vez mais precisamos de ver na imprensa em Moçambique: o jornalismo narrativo, trazer um relato vivo, narrar a estória (rica em personagens e cenas reais) que nos crie aquela empatia...que nos faça transportarmo-nos pela imaginação àquele ambiente. São esses "pequenos nadas" que marcam a nossa realidade que devem ser retratados na imprensa (sobretudo, lá estou eu com o meu "velho amor"!, pelos semanários), porque, afinal de contas o nosso quotidiano está cheio de personagens dignas de ser "O Deus das Pequenas Coisas"...sem que precisemos de uma Arundhati Roy para os romancear!